TRISTÃO E ISOLDA

TRISTÃO E ISOLDA (AMORES ETERNOS)

                                        Nahman Armony

         Uma antiga lenda celta da alta idade média toca até hoje nossa sensibilidade. Tristão e Isolda fazem-nos pensar na força e universalidade de um amor entranhado que ultrapassa a morte e se eterniza na arte e nos corações. Estamos mais uma vez diante uma situação limite onde amor e morte se roçam. Tristão, ferido em combate pelos inimigos irlandeses é dado por morto e recebe um enterro viking. A embarcação funerária na qual seus compatriotas o colocam por milagre não é devorada pelas chamas; levado por acaso às praias do inimigo, é coincidentemente encontrado pela bela princesa irlandesa Isolda que ao ver o belo jovem moribundo dedica-se a salvar sua vida. Tristão já abandonando o mundo dos vivos, invadido pelo frio da morte, renasce quando o corpo nu de Isolda incute-lhe o calor da vida. Por seu lado, Isolda, uma moça sonhadora, com os olhos sempre buscando o além, vê surgir uma aparição, uma materialização de seus devaneios mais insensatos. Ela cuida daquele anjo que lhe é entregue pelas misteriosas águas do oceano infindo com o cuidado e desvelo de mãe/amante. E, finalmente, ele retorna à vida. A paixão é fulminante, visceral, e mesmo prometida ela se entrega ao seu cavaleiro encantado aquele que foi gestado pelo seu carinho e dedicação e que por isso mesmo lhe pertence. Tristão por sua vez, renascido pelos cuidados de Isolda e envolvido por seu amor infinito esquece de que sua missão é levar Isolda a seu tio a quem ela foi destinada. Esse amor, nascido de fantasias arcaicas, não hesita diante dos perigos mortais que certamente serão provocados pela relação amorosa transgressiva; um amor que enfrenta as próprias consciências e lealdades e desafia todo um sistema social instituído. De onde este amor tira tanta potência? Certamente a força do amor é um mistério. Na história acima sobre o fundo de mistério essa força é encontrada numa jovem que sonha com o atemporal de um lugar inexistente onde reinam o fascínio, o deslumbramento, o impulso feminino de dar vida a um ser precioso e idealizado. Ela se dedicou com ardor e empenho à extraordinária criatura trazida a ela pelo destino-mar infindo e o fez renascer. Ele é uma dádiva divina criada por ela e nada os poderá separar. Ele, por sua vez, arrancado das garras da morte por uma fada, por uma criatura que em seus delírios lhe aparecia como um demiurgo, uma deusa da vida entrega-se irremediavelmente aos seus carinhos, imerge em seu colo mágico para dele nunca mais sair. Um pacto profundo estabelece-se entre os dois e nada mais, nem mesmo a morte os poderá separar.

Estamos, talvez, diante de um arquétipo que jaz no âmago do psiquismo dos seres humanos, pois narrativas semelhantes se encontram em outras culturas.         

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