INSTINTO MATERNAL

PARADOXO E CONTRADIÇÃO


A velha e resistente questão sobre a incapacidade dos animais ditos irracionais serem incapazes de simbolizar, mantendo-se aprisionados aos instintos, em contraste com os seres humanos dotados de pulsões, de um cérebro simbolizador, reaparece quando releio o livro de Elizabeth Badinter "Um Amor Conquistado; o Mito do Amor Materno."
O tema é de difícil abordagem, pois os termos e definições usados não têm uma fronteira definida. Veja-se, por exemplo, a atividade dos castores que nas suas obras de engenharia se deparam com diferentes problemas. Existe um impulso de construção que podemos chamar de instinto, sem porém perder de vista que estamos lidando com uma ideia abstrata que irá se desdobrar em diferentes desenhos concretos. Seria conveniente usar a palavra instinto para esse impulso? Ou ficaríamos com a ideia de que a palavra instinto refere-se a uma repetição a uma repetição tal e qual? Badinter terá razão ao dizer que a contingência e o particular são exclusivos do ser humano? Diz ela: "Parece-me que devemos deixar a universalidade e necessidade aos animais e admitir que a contingência e o particular são o apanágio do homem". Então os animais de quatro patas, mamíferos e outros, são incapazes de se adaptar aos ambientes e aos comportamentos? Acho eu que a palavra 'instinto' porta tanto a necessidade e universalidade quanto a contigência e o particular. O castor e todos os castores (universalidade) têm necessidade de construir represas. Mas, ao construí-la vai se deparar com situações particulares que só poderão ser enfrentadas e resolvidas com dispares ações (contingentes e particulares).                                                                                           Vamos comparar o comportamento do castor com o comportamento da mulher. Em semelhança ao castor sua universalidade está no desejo de ser mãe. Mas a maneira de ter o filho diverge de pessoa para pessoa. Poderíamos então dizer que o termo instinto tem dois tempos? O tempo da universalidade e o tempo das particularidades? De qualquer forma, a palavra instinto não pertence somente aos animais irracionais. Ela se aproxima de ambos: homem e bicho. Menos uma diferença marcante (vide o conceito de inteligência emocional). Mais uma aproximação do Homem ao Animal. Menos a pulsão como uma exclusividade absoluta do Homem. Se sairmos da nomenclatura psicanalítica poderemos usar instinto/pulsão tanto para um quanto para outro sem ter de procurar um termo diferenciador. 
Transportarei essa fala para a questão que orienta esta comunicação breve e sem compromisso (existe ou não um instinto maternal?). Podemos dizer que tanto o homem racional quanto o animal sofrem de um mesmo male. Impossível distinguir o genético do ambiental. E aqui não estou falando de uma observação, mas sim de algo que se aproxima de um método epistemológico de Einstein. Evidentemente este método epistemológico convive com o método das evidências. Mas vamos ao meu tecido. Desde o início o ser vivo interage com o ambiente. Este ser vivo já vem com direcionamentos que sofrerão alterações no contato com o ambiente. Na verdade o ambiente já está dentro do corpo vivo pois ele já viveu incorporações e desincorporações. A mitocôndria que poderia ser hipoteticamente inimigo para o desenvolvimento é, pelo contrário, necessário à vida. 
A fórmula então seria: genética + ambiente. E isto desde o início da vida planetária. 
Eu prefiro ficar com a seguinte fórmula: instinto materno em interação com acontecimentos e comportamento.