A DISSOLUÇÃO DO BORDERLINE

   RABISCOS HISTÓRICOS    
                                     
No mundo das palavras, o termo borderline tem um avô. Chama-se borderland e foi criado por C. Hughes que a usou pela primeira vez em 1884. Seu significado difere do termo borderline atual embora se possa reconhecer seu parentesco. Hughes escreveu: “A fronteira da insanidade é ocupada por muitas pessoas que passam sua vida inteira próxima àquela linha às vezes de um dos lados às vezes do outro”. De lá para cá o termo que de borderland passou a borderline, teve inúmeros descendentes que embora se parecessem, não podendo, pois, negar sua origem, mostravam nas suas diferenças uma história de modificações e complexificações. Borderland nasceu no seio do paradigma cientificista e, como tal, tinha de ter uma clareza e distinção cartesianas próprias do paradigma. E nada mais claro que este pingueponguear que dispensava uma percepção da complexidade borderline. Uma complexidade que foi se revelando no desdobrar da história dos transtornos psíquicos e mentais e da qual vamos tomando conhecimento na medida em que entramos em contato com as concepções dos vários autores. O quadro sintomático múltiplo do borderline era desorientador dificultando um consenso e multiplicando a nomenclatura. Entre estes nomes encontra-se o de esquizofrenia larvada, esquizofrenia latente, esquizofrenia incipiente, esquizofrenia pseudoneurótica, suave demência precoce, depressões periódicas e outros. De uma maneira geral pode-se dizer que as primeiras tentativas de caracterizar o borderline lhe dava um lugar excêntrico nas classificações psiquiátricas da época, pois não era visto nem como psicótico, nem como neurótico. Simplesmente não havia ainda um lugar para ele. Para alguns o borderline ocupava uma posição intermediária entre a neurose, definida como uma doença nervosa de origem psíquica, e a psicose definida basicamente como perda de contato com a realidade. Esta forma incompleta de enxergar o borderline nós ainda a encontraremos em vários autores. Knight em 1954 escreve que borderline não é propriamente um diagnóstico, sendo mais usado para designar pessoas muito perturbadas, mas não francamente psicóticas; é também utilizado naqueles casos em que é difícil decidir se o paciente é neurótico ou psicótico. Estas dificuldades podem ser atribuídas ao fato de o borderline não se enquadrar em um sistema classificatório exigido pelo paradigma cientificista e repressivo do século 19. Quando Kraepelin na psiquiatria e Freud na psicanálise finalmente realizam esta proeza, o borderline com seu quadro multiforme não encontra um lugar, vagando aleatoriamente como alma penada no universo psi. A era vitoriana não aceita nem a multiplicidade de desejos do homem, nem a variedade de sintomas que compõem uma singularidade.
 Darei um exemplo:
Sob os auspícios do Chicago Psychoanalytic Institute, um grupo de 16 psicanalistas reunia-se mensalmente para discutir seus casos borderline. Depois de um período de discussão elaboraram o seguinte relatório: “Do ponto de vista do diagnóstico clínico o espectro borderline inclui variados casos descritos na literatura como desordem de caráter, neurose narcísica de caráter, desordem narcísica de personalidade, defeito ou distorção do ego, personalidade esquizoide, personalidade paranóide, esquizofrenia ambulatória ou pseudoneurótica, certos caracteres depressivos, alguns pacientes com depressões periódicas ou episódios maníaco-depressivos, alguns alcoólatras, jogadores, pacientes com distúrbios sexuais, perversos ou promíscuos, caracteres obsessivo-compulsivos severos e muitos pacientes com sérias doenças psicossomáticas. As características clínicas do borderline incluíam baixa autoestima, extrema sensitividade à crítica e rejeição, suspicácia e desconfiança e extremo pavor. Eles têm muito medo da agressividade deles próprios e dos outros, de amar e serem aprisionados, de responsabilidade e de mudança em geral. Suas relações interpessoais tendem a ser tênues e temporárias, e sua percepção da realidade é muitas vezes deficiente. Eles usam a negação e a projeção numa escala muito maior que os neuróticos. Seu intenso anseio por aprovação e proximidade, e um medo simultâneo de que isso conduza a sentimentos de solidão e vazio, e, no extremo, a um total vácuo e desespero”(Grinker, p.13/14 do livro “The borderline syndrome”).
Esta pletora de diagnósticos, características e dinâmicas não condizem com o paradigma cientificista repressivo vigente. Procura-se então unificar estas diversas percepções. Grinker em 1968 realiza a façanha de encontrar a unidade na criação de um espectro que vai do borderline próximo à psicose ao borderline próximo à neurose. 
Ele admite[1] quatro níveis de borderline: “Grupo 1- O borderline psicótico – comportamento inapropriado e não adaptado. Deficiente senso de identidade e de realidade. Comportamento negativo e raivoso em relação às pessoas. Depressão. Grupo 2- O borderline nuclear – Envolvimento flutuante com outros. Expressões abertas e atuadas de raiva. Depressão. Ausência de indicações de um self consistente. Grupo 3 – Personalidades ‘como se’ – comportamento adaptado e apropriado. Relações complementares. Pouca espontaneidade e afeto em resposta a situações. Defesas: afastamento e intelectualização. Grupo 4- O borderline neurótico – Depressão anaclítica (semelhante à da infância). Ansiedade. Semelhança com caráter narcisista neurótico”. Pautado por essa sistematização distingui nesse conjunto humano três níveis: borderline pesado (patológico), borderline falso-self e borderline brando (próximo da normalidade) com os quais passei a trabalhar.
Outros analistas lidam de outra maneira com a miscelânea borderline. Diferentemente de Grinker que procura ordenar a síndrome borderline eles aceitam a dispersão borderline não como um defeito de diagnóstico, mas como uma condição ontológica. Para exemplificar apresentarei uma citação de Grinker a respeito de Schmideberg. Este psicanalista em 1959 “descreve o borderline como uma síndrome que mistura normalidade, neurose, psicose e psicopatia em um padrão que permanece relativamente estável ao longo da vida... ele é estável em sua instabilidade e muitas vezes mantém um padrão constante que lhe é peculiar” (GRINKER, R. e colaboradores- “The borderline syndrome”, 1968, p.12/13). Temos aqui uma novidade valiosa: até então a inconsistência dos aspectos sintomáticos e comportamentais do borderline impediam sua aceitação como entidade de direito próprio, pois o paradigma cientificista e repressivo exigia definições claras e precisas, o oposto da variabilidade não sistematizada do chamado borderline. Há um rompimento destes psicanalistas, provavelmente inconsciente com este paradigma dando uma potência ontológica à palavra inconsistência (nem neurótico, nem psicótico e ao mesmo tempo neurótico e psicótico - paradoxo) desatrelando o borderline da obrigação de consistência e sugerindo um novo paradigma onde a precisão, a causalidade, e a repressão da palavra cedem seu lugar à liberdade associativa e ao paradoxo, dando elasticidade aos conceitos e legitimando o diagnóstico de borderline. Isto é oficialmente reconhecido em 1980 pela comunidade psiquiátrica no DSM-III da APA, a respeitada Associação Americana de Psiquiatria usada como guia diagnóstico por grande número de psiquiatras de todo o mundo ocidental. Lá o borderline ganha o rótulo de Borderline Personality Disorder e será diagnosticado como tal se apresentar 5 das 8 características seguintes: impulsividade, relações interpessoais intensas e instáveis, distúrbios de identidade, instabilidade afetiva, intolerância com o estar só, atos físicos autoagressivos, sentimentos crônicos de vazio e futilidade.
Em 2002 foi publicado no Brasil o:
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
4ª Edição - 1994
DSM-IV-TR
 American Psychiatric Assotiation
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE (p.664)

        Padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal, auto-imagem e afetos, e acentuada impulsividade que se manifesta em vários contextos.
        Para o diagnóstico devem estar presentes pelo menos 5 das 10 características abaixo relacionadas:
        1-Esforço frenético para evitar abandono.
        2-Relação interpessoal intensa e instável caracterizado por alternância extrema entre idealização e desvalorização.
        3-Perturbação de identidade: instabilidade da autoimagem ou do sentimento do self.
        4- Impulsividade.
        5- Gestos ou ameaças de suicídio ou automutilação.
        6- Instabilidade afetiva.
        7- Sentimentos crônicos de vazio.
        8- Raiva intensa e inapropriada ou dificuldades de controlá-la.
      9- Ideação paranóide transitória reativa ao stress                 ou sintomas dissociativos graves.
Não há nenhuma dificuldade em perceber que se trata de um arrolamento fenomênico sem nenhuma gota de dinâmica. Esta, no entanto já vinha sendo procurada por diversos psicanalistas que tentavam entender a dinâmica do borderline. Apresentarei alguns desses esforços.
Stein em 1938 atribuiu a “lesão narcísica severa” a uma “deficiente afeição maternal”, colocando a ideia da importância da mãe na genealogia do borderline.
Knight (1954) refere-se a um ego frágil que não consegue controlar impulsos inconscientes primitivos. Tem, porém força suficiente para uma adaptação superficial à realidade.
De acordo com Fried (1956) o borderline ao se aproximar emocionalmente de outra pessoa teme a perda da diferenciação e/ou de ser engolido pelo outro e então reage isolando-se e tornando-se hostil. Greenson fala-nos da deficiência das funções do ego devido a uma pobreza de relações de objeto e de identificações. Waelder em 1960 refere-se a um sentimento de vazio a partir do qual o borderline deseja se apropriar do outro e tem medo de por ele ser engolfado: “Alguns tentam emprestar dos outros, tornam-se satélites dos outros, imergem na multidão ou situam-se pele com pele. Outros tentam preencher com conhecimento ou experiência”. Outros temas da literatura sobe borderline são: escassas identificações, distúrbios e busca de identidade, problemas na integração do bom e do mau, difíceis relações com a realidade.
Bergeret tenta dar um passo adiante buscando fundamentos para a sintomatologia do borderline. Ele escolhe como um dos fundamentos a luta contra a depressão. Esta seria a característica ubíqua do borderline. Para controlar a depressão o borderline usaria a hipomania, a ansiedade, a relação anaclítica. Falhando estas formas de compensação o borderline ver-se-ia lançado no poço da depressão.
Também Kernberg procura fundamentos para a sintomatologia do borderline. Remete-nos então à cisão. Não uma cisão kleiniana de Mãe-Boa e Mãe-Má. Para Kernberg teria havido uma suficiente unificação do Bom e do Mau; a insuficiência estaria no recalque dos conflitos primitivos, os quais, permanecendo perigosamente na beira da consciência ameaçam com uma ansiedade disruptiva, o que ele tenta evitar com uma mais superficial dissociação entre o Bom e o Mau.
Christopher Bollas afirma que “a personalidade borderline busca inconscientemente a turbulência emocional. Embora doloroso e perturbador, o estado de tumulto é desejado, e, paradoxalmente, o encontrar-se num estado de angustia produz gratificação”.
Na genealogia do borderline muitas vezes nos deparamos com uma situação infantil em que os movimentos alternados de apego e libertação do infante não sensibilizam a mãe que então pode vir a agir contrariamente ao desejo do bebê, criando dificuldades psicológicas.
Uma outra situação que poderia ser chamada de uma variante genealógica borderline é uma mãe que necessita de uma relação fusional/simbiótica subjetiva de exclusividade, impedindo que o filho tenha qualquer outra relação intersubjetiva que não seja com ela, mãe.
Mas a hipótese que ao final deste texto vou apresentar só poderá ser entendida se para além das dinâmicas, entrarmos no terreno dos fundamentos (uma palavra que não aprecio e que em meu livro sobre borderline substituí por “insinuâncias”). São as seguintes as insinuâncias que uso: onipotência mitigada, compartimentação (correspondente à cisão), dual-porosidade. Assim como a repressão/recalque está na base da neurose, as insinuâncias arroladas influenciam o modo de estar no mundo do borderline.      
Apoiando-me na classificação de Grinker tipifiquei o borderline em três categorias: O borderline pesado, aquele que sofre e faz sofrer, o borderline falso self (ou como se) e o borderline brando. Examinarei a questão do borderline brando ---- o borderline normal.
Pelo menos três escritores psicanalistas se referem, de diferentes maneiras, ao borderline que estou chamando de normal. São eles: Bergeret, Winnicott e Bleger.
Bergeret- citação: “existem tantos termos de passagem entre ‘normalidade’ e psicose descompensada no seio da linhagem estrutural psicótica fixa, quanto entre ‘normalidade’ e neurose descompensada, no seio da linhagem estrutural neurótica fixa (...) A noção de ‘normalidade’ estaria, assim, reservada a um estado de adequação funcional feliz, unicamente no seio de uma estrutura fixa, seja esta neurótica ou psicótica, sendo que a patologia corresponderia a uma ruptura do equilíbrio dentro de uma mesma linhagem estrutural”. BERGERET, 1991, p. 28/9. Bergeret considera a estrutura psicótica superior à estrutura neurótica: “Pode-se ser ‘normal’ sem haver atingido o nível edipiano, com a condição de haver realizado uma verdadeira estrutura; contudo a estrutura do tipo edipiano deve, da mesma forma, ser disposta em um nível elaborativo superior ao da organização estrutural psicótica”. Ibidem, p. 43. Portanto Bergeret acredita em uma normalidade neurótica e em uma normalidade borderline e coloca a normalidade neurótica em um nível elaborativo superior.
Já Winnicott passa outra impressão. Vejamos: “Os psicanalistas experientes concordariam em que há uma gradação da normalidade não somente no sentido da neurose, mas também da psicose, e que a relação íntima entre depressão e normalidade já foi ressaltada. Pode ser verdade que há um elo mais íntimo entre normalidade e psicose do que entre normalidade e neurose; isto é, em certos aspectos. Por exemplo, o artista tem a habilidade e a coragem de estar em contacto com os processos primitivos aos quais o neurótico não tolera chegar, e que as pessoas sadias podem deixar passar para o seu próprio empobrecimento”.[2] 
Outra citação: “Se tudo que foi dito antes pode ser dado como certo, podemos dizer, referindo-nos a um bebê total relacionado a uma mãe total, que está estabelecido o estádio no qual a posição depressiva pode ser alcançada. Se essa totalidade não pode ser levada em conta, então nada do que tenho a dizer sobre a posição depressiva é relevante. O bebê vai vivendo sem ela; e muitos conseguem [sublinhado meu]. De fato, em tipos esquizóides pode não haver uma conquista significativa da posição depressiva e, na ausência daquilo que pode ser descrito como reparação e restituição, a recriação mágica é utilizada”.(Winnicott, 1954, p.440)
Parece-me que nas citações de Winnicott há não só a admissão de uma normalidade borderline, mas também uma valorização dos borderlines que teriam, frente ao neurótico, uma maior riqueza vivencial e uma percepção mais apurada do inconsciente.  
Já Bleger em seu livro “Simbiose e ambiguidade” separa categoricamente o borderline (que ele chama de personalidade ambígua) do neurótico sem nenhuma aparência de avaliação: “ ... a personalidade ambígua, rigorosamente falando,  não carece de ego nem de sentido de realidade; ela possui um outro tipo de ego e outro sentido de realidade. Disto se deduz que a onipotência (por exemplo) que caracteriza a personalidade ambígua e a primitiva organização sincrética, não constitui uma falta de sentido de realidade (em seu significado convencional), mas sim configura uma relação distinta e um manejo diferente da realidade, que ainda pode ser bem-sucedido para o sujeito. Neste sentido, a onipotência da ambigüidade primitiva não é uma defesa frente à realidade, como um escape frente à mesma, mas uma forma distinta de estruturá-la e manejá-la, o que não exclui que possa servir como defesa por meio da regressão. O eu da personalidade ambígua é sumamente cambiante e não se acha interiorizado como um eu definido ou cristalizado”.[3]
Estes três autores valorizam a personalidade borderline, mas todos eles colocam a neurose e o borderline em compartimentos separados. Já eu tenho a impressão que se torna cada vez mais difícil distinguir uma pessoa que seja exclusiva/predominantemente neurótica de uma exclusiva/predominantemente borderline. Esta é a impressão fenomênica que tenho com a amostra de meus analisandos. Eles ao mesmo tempo são pessoas que sofreram recalques traumáticos como também sofreram incompreensões ambientais quanto às suas necessidades relacionais intersubjetivas que lhes permitiriam crescer e encontrar uma equilibração satisfatória. As repressões traumáticas da atualidade tendem a ser mais benignas que malignas. Historicamente falando, quando as repressões migraram de uma mais frequente malignidade para uma mais amiudada benignidade a ditadura da repressão maligna atenuou-se liberando um espaço psíquico que pôde ser ocupado por outros processos psíquicos tais como repressão benigna, onipotência mitigada, porosidade, compartimentação/cisão --- processos neuróticos e borderlines. Há atualmente uma tendência das pessoas não se apresentarem nem como neuróticas nem como borderlines o que pede do analista grande flexibilidade e vasto repertório terapêutico: interpretação, construção, sugestão, explicação, apoio, continência, experiência compartilhada, relação intersubjetiva, holding, handling, e quaisquer outros recursos que façam sua aparição espontânea no calor da relação terapêutica. Uma citação de André Martins poderá melhor esclarecer esta concepção: “Seja mais, seja menos, temos todos nossos traços neuróticos e psicóticos, ou neuróides e psicóides. Somos todos borderlines. Entre os borderlines, as dificuldades e a organização psíquica variam. Mas a saúde psíquica não está mais do lado da neurose, como tampouco passou a estar do lado da psicose. Ela se encontra na franja central, não no justo meio, que não há, mas na busca da expressão de nossa criatividade com um mínimo de defesas, e em lidar bem com elas, nem rigidificando-as, como na neurose, nem abrindo inteiramente mão delas, recaindo em um descontrole emocional e da percepção da realidade, como na psicose”.
Então, a pessoa que se apresenta para o analista não seria chamada nem de neurótico nem de borderline. De que então? Valeria mesmo a pena nomeá-lo? Ou simplesmente dizer que “Fulano sofre de Sofrimento” e ponto final?
Meu ponto de vista é que seria fecundo dizer que todos nós humanos, vivemos, winnicottianamente, em um espaço transicional e que somos todos, portanto, Homens Transicionais (Homens no sentido de seres humanos). O espaço transicional permite justamente uma inclusão universal. Trata-se de um espaço em que subjetivo e objetivo convivem em variados graus. Se, para facilidade de entendimento imaginarmos o espaço transicional como um lócus/linha, teríamos numa extremidade (e, paradoxalmente fora dela), o subjetivamente concebido puro da psicose-modelo; na outra extremidade (e ao mesmo tempo fora dela) teríamos a purificação objetificante, um processo psíquico próprio da neurose modelo. E ao longo da linha (que já podemos imaginativamente expandir para lócus/espaço) teríamos as várias possibilidades de mistura do subjetivamente concebido com o objetivamente percebido. Durante um tratamento esta composição de objetivo/subjetivo sofre flutuações. Creio que podemos dizer que os lugares próprios e mais adequados do homem contemporâneo estariam no miolo do espaço transicional, portanto afastado de suas extremidades subjetiva e objetiva. Neste miolo o Homem Transicional viverá tanto o subjetivamente concebido como o objetivamente percebido tratando de conseguir uma equilibração ( prefiro usar a inventada palavra equilibração a equilíbrio, pois esta última dá uma impressão de estabilidade que quero evitar). Para isso será preciso que use flexivelmente os processos psíquicos de repressão/recalque, de onipotência mitigada, de divisão e compartimentação e de graduada e seletiva porosidade. Quando a equilibração falha o psicanalista poderá ser chamado para, junto com o analisando, procurar as circunstâncias das falhas retomando-se o trabalho de permanente equilibração, recorrendo para isto a um vasto repertório terapêutico a ser usado de acordo com as peculiaridades das vivências do analisando. O analista não procurará saber se o futuro analisando é neurótico, borderline ou psicótico. Ele estará diante de um Homem Transicional que será conhecido em sua singularidade, expressa em parte pelas sucessivas posições (lócus) ocupadas no Espaço Transicional.
                                         Nahman Armony
                                         Junho/2014
      
Publicado na revista RABISCO vol.4, n.2, outubro de 2014






      
  



      



[1] Grinker,R.R., .Werble,B., Drye,R.C., 1968, p.83-90.
[2] WINNICOT, D.W., 1975b, p.121. “Classificação: existe uma contribuição psicanalítica à classificação psiquiátrica?”
[3]BLEGER, J.,  1972, p.180.

DESAPARECER COMO INDIVIDUALIDADE


                                                                                 
         Existe um generalizado medo de ser influenciado e então perder a identidade. É um temor que alcança todas as áreas do humano, desde a relação entre povos até a relação de casal. Não é possível dizer que seja um sentimento facilmente reconhecível. Pelo contrário somos inconscientes dele, embora influencie nossas ações. As conquistas territoriais, os massacres de populações, a imposição de cultura são, em parte, uma defesa agressiva contra a invasão do outro em mim.
Este medo de ser influenciado e perder a identidade está profundamente incrustado no ser humano. Existe no início da vida uma tendência a se perder no outro, a desaparecer dentro da mãe, tendência que se mantém em surdina enquanto age vigorosamente o desejo de individualização.
Quando um casal discute sobre o modo de usar o tubo da pasta de dentes cada um querendo provar que a sua maneira de manipulá-lo é a melhor, trata-se na realidade de uma luta de personalidades. Qual a personalidade que vai prevalecer? Quem vai devorar quem? Quem vai desaparecer e virar uma sombra para que o outro possa ou ocupar um espaço pleno ou ficar tranqüilo quanto à ameaça de ser invadido, colonizado, controlado? Na economia das relações entre os seres vivos o grupo funciona com mais eficiência quando se estabelecem relações hierárquicas. Caso contrário cada um sairia atirando para um lado e não haveria uma sinergia de ações condição sine qua non para a sobrevivência do grupo, pois, em condições primitivas, o grupo tenderia a desaparecer destruído por outros grupos. Essa é uma herança que os humanos carregam consigo para todos os lados, em todas as situações. Inclusive, é claro, nas relações amorosas. É preciso fazer um esforço para identificar este receio atávico para poder neutralizá-lo. Os casais deverão estar atentos às pequenas disputas. Não só elas podem estar escondendo questões maiores da relação como também podem estar vinculadas a esta questão primordial que é o medo de desaparecer na voragem do outro.
Sem dúvida existe a necessidade de auto-afirmação para estabelecer limites e espaços de cada um. Cada membro do casal tem sua forma própria de pensar e agir. Quando tento convencer o outro que meu modo de pensar é o verdadeiro, entro no terreno da disputa, da conquista, do desejo de ocupar com minha personalidade o máximo de espaço e com o medo de ver a minha individualidade anulada pela individualidade do outro. Quanto maior for a autoestima de cada um, quanto maior for a certeza de ter um centro autônomo e criativo, menos este tipo de disputa aparecerá. Cada membro do casal será uma força em si que não precisará dobrar a força do outro para ser forte. Ele não é forte porque domina o outro, mas porque tem uma potência intrínseca em si mesmo. Sem dúvida nenhuma a dominação traz lucros para o dominador e de certa maneira também para o dominado que conhecendo seu papel e seu lugar goza de uma tranqüilidade e segurança fictícios. Recentemente assisti ao depoimento de uma mulher: ela deixou o encargo das finanças para o marido. Certo dia este homem descartou-se da esposa que ficou sem recursos enquanto que ele fartava-se do resultado de transações malandras e enganosas. Durante mais de uma década a esposa viveu uma situação de segurança e tranqüilidade para de repente ver o seu mundo desmoronar.
         O medo de ser influenciado e de perder a identidade pode levar a querer dominar o outro, e a partir daí, o gosto do poder poderá se expandir provocando situações cruelmente injustas. É importante que o casal perceba que a tentativa de imposição de seus pequenos gostos pessoais tem um fundamento em sentimentos primitivos da humanidade. Eles são avatares do atávico medo de desaparecer como individualidade. Por isso mesmo devem ser bem administrados, e para tal precisam primeiro ser reconhecidos.   


                                                      Nahman Armony

POEMA DO AMOR INFINITO



                             Como tu és um amor definitivo
                   Amo-te sem pressa, sem raiva.
                   Amo-te como o mar ama a areia
                             Como o sol ama a terra:
                   Lenta, segura, serenamente.
                   Amo-te sabendo que a noite terminará
                   E que o dia luminoso há de surgir para nós
                   E que esse amor em sua lentidão,
                           Em sua serenidade
                   Explodirá em milhões de sóis
                   Iluminando nossa vida
                   Infinitamente. 
                                                             
                                                         Nahman Armony
                                                 

MANIPULAÇÃO E MOBILIZAÇÃO

MANIPULAÇÃO E MOBILIZAÇÃO[1]
NAHMAN ARMONY
Uma controvérsia que aos poucos vai esmorecendo ainda é suficientemente intensa para merecer um estudo. Refiro-me à questão da manipulação e controle que o cliente procura exercer sobre o psicoterapeuta. Nos extremos desta questão colocam-se, por um lado, aqueles que temem o controle como o supremo pecado da psicanálise e, por outro, aqueles que “entram no jogo do cliente” na esperança de lhe fornecer uma ajuda terapêutica. A primeira atítude dominava, soberana, os arraiais da psicanálise até há algum tempo. Sempre, porém, desde os primórdios da psicanálise houve vozes discordantes, a princípio isoladas, aos poucos mais encorpadas. Marion Milner (1969, pág. 107) escreve: “Todo este tempo ouvi muito os analistas falarem da necessidade de constante interpretação das muitas maneiras sutis pelas quais os pacientes buscam, inconscientemente, controlar o analista e a análise. No entanto, este procedimento, com Susan, somente a submergia em um profundo desespero, até um estado no qual todo contato entre nós parecia estar perdido”. Searles (1961), ao cunhar a figura da “Simbiose terapêutica”, eleva o assim chamado envolvimento à condição de instrumento terapêutíco. É preciso, porém, cui­dado: Milner, Searles, Sechehaye (1947), Sullivan (1962), Fromm-Reichmann (1962) e outros, estão se referindo a pacientes psicóticos ou a núcleos psicóticos da personalidade. Diante desta situação, o analista fica mobilizado, no sentido de desempenhar os papéis assinalados pelo clíente, tendo os sentimentos e reações que este procura despertar. “Impõe-se-nos uma conclusão inesperada e surpreendente, isto é, que a tela elemento-beta (chamá-la-ei de tela-beta, daqui por diante, para abreviar) apresenta a capacidade de promover a espécie de reação que o paciente deseja, ou, por outro lado, a resposta do analista fortemente carregada de contratransferêncía” (Bion, 1962, pág. 39). Quando escrevi, acima, o analista fica mobilizado, usei esta última palavra deliberadamente, para distingui-la de um outro termo cuja simples menção provoca, em inúmeros analistas, um arrepio de medo e horror; trata-se da palavra manipulação, ou controle. Diante da possibilidade de estar sendo manipulado, o analista coloca-se numa posição defensiva, dura e rígida, com receio de estar sendo levado por caminhos malditos, de não estar fazendo a “verdadeira psicanálise", de estar sendo dominado pelo cliente.
É justamente neste ponto que cabe distinguir mobilízação (ou comoção) de manipulação (ou controle). Contratransferencialmente, elas se distinguem por apresentar, a primeira, um caráter de urgência, de apelo primitivo que, se desconsiderado, poderá levar ao ísolamento ou ao desespero quase sem possibilidade de retomo. Já a manipulação ressoa inautêntica, superficial; parece ter a finalidade de amarrar o terapeuta, manter intactos os dinamismos, impedir o desenvolvimento da díade. A não-resposta vivencial à manipulação não desperta o sentido de perigo para as bases da personalidade, não atinge os aspectos de confiança e segurança básicos, pois o rompimento a partir da manipulação tem a ver com a dificuldade de aceitar um processo de reestruturação da personalidade. Já o rompimento a partir de uma defensividade do terapeuta em relação à mobilização coloca o cliente em uma situação de perigo, cujas menores consequências poderiam ser o isolamento e a loucura. sem que possamos esquecer, também, da possibilidade de algo mais definitivo e irremediável como o suicídio. Estes desdobramentos possíveis têm a ver com o sentimento de perda de um semelhante com o qual se necessita, vitalmente, fazer uma relação simbiótica. A resposta vivencial à mobilização aproxima os participantes da díade, melhorando as condições do trabalho terapêutico. Cliente e analista se sentem mais unidos em uma tarefa comum, e não imobilizados como ocorre na resposta vivencial à manipulação. Examinemos mais detidamente esta diferença: Na mobilização as emoções são mais intensas que na manipulação, e vividas de uma forma mais pessoal. Na manipulação os sentimentos não penetram diretamente dentro do terapeuta, mas ficam como que colocados em um espaço intermediário, a partir do qual o terapeuta pode percebê-los e senti-los. Esta distância permite-lhe ter uma visão mais isenta dos acontecimentos do que é possível na mobílízação, onde um afastamento depende de um esforço maior. O que também aparece na manipulação é uma ansiedade referida às consequências de “não entrar no jogo” do cliente: O cliente irá embora? Ficará zangado? Rejeitará o terapeuta? Controlará o terapeuta?
Nenhuma destas perguntas tem a força e a gravidade daquelas que surgem a partir da mobilização, onde as questões referem-se à integridade psíquica e às vezes física do analisando e do analista. As perguntas, porém, só são formuladas em um segundo momento. No primeiro instante o que aparece é uma vivência que só depois pode ser percebida, interrogada. compreendida. Trata-se de uma espécie de comunicação primitiva, que impele o terapeuta a mudar o enquadre psicanalítico. Assemelha-se ao apelo primitivo que existe no choro da criança que mobiliza a mãe, ou no grito de alerta de um animal contagiando os companheiros do grupo. Quando o terapeuta inibe a sua resposta vivencial, o apelo e a mensagem caem no vazio, aumentando a tensão. Estamos agora em melhores condições para compreender por que a mobilização aproxima a díada terapêutica. Na resposta vivencial do terapeuta à mobilização, a tensão, que se acumulava no relacionamento da díade, descarrega-se. Há uma sensação de alívio – e a possibilidade de retomar o trabalho tera­pêutico de maneira mais fluente e livre. Surgem novas aberturas a partir da experiência vital partilhada. Aquilo que, em termos de vivência, não tinha forma, era “flou”, vago, frouxo – não se lhe podendo, pois, dar um nome – passa a ter consistência, a apresentar contornos, torna-se visível, concreto e, portanto, pode, a partir de então, ser nomeado. Neste processo todo há um aprofundamento da transferência, os dois membros da díade reconhecem-se cada vez mais como membros de uma comunidade fantasmática. O laço ima­ginârio solidifica-se entre os dois, e agora eles já não mais se estranham. Há um sentimento de familiaridade, de união, que lhes permite enfrentar tempos tormentosos sem romper a relação.
Se acharmos, agora, necessário rastrear e desvendar as concepções teóricas que se ocultam nas descrições da contratransferência, formando com estas um amálgama do qual não se conhece princípio e fim, poderemos encontra-las em Bion, M. Klein e Freud. “Graças à tela-beta, o paciente psicótico apresenta a capacidade de despertar emoções no analista. Suas asso­ciações são os elementos da tela-beta, que se destinam a estimular as interpretações ou outras respostas que se relacionam menos com a sua necessidade de ínterpretação psicanalítica que com a sua necessidade de produzir en­volvimento emocional (...) Ele não se empenha em manipular o analista da mes­ma maneira que o neurótico” (Bion, 1962, pág. 40). Quando se fala de mani­pulação neurótica, a referência teórica não é mais a tela-beta, mas sim a bar­reira-de-contato, isto é, os elementos e a função alfa. Esta aproximaçlo teóri­ca permite explicar a razão pela qual a manipu1ação não apresenta o caráter de urgência e apelo·da mobilização. Na manipulação está em pauta·o prin­cípio de realidade, enquanto que na mobi1ização é o princípio do prazer que predomina. “Só os elementos-beta se utilizam para qualquer atividade que substitua o pensar, e eles só servem para ser evacuados – talvez através da ação da identificação projetiva. Estes elementos-beta se tratam por processo de defecação semelhante aos movimentos da musculatura, das mudanças de semblante, etc., que se destinam, segundo Freud, a livrar a personalidade dos acréscimos de estímulos e não a efetuar modifícações no ambiente” (Bíon, 1962, pág. 29). “Nova função foi então atribuída à descarga motora que, sob o predomínio do princípio do prazer, servira como meio de aliviar o apa­relho mental de adições de estímulos, e que realizara esta tarefa ao enviar inervações pata o interior do corpo (conduzindo a movimentos expressivos, mímica facial e manifestações de afeto). A descarga motora foi agora empre­gada na alteração apropriada da realidade" (Freud, 1911, pág, 280). Na mani­pulação, o cliente, encontrando-se diante da realidade da situação analítica. uma realidade que pretende promover modificações estruturais na sua perso­nalidade, tenta, consciente ou inconscientemente, modificar esta realidade que se lhe apresenta, usando para isto a função alfa, isto é, aquela função que per­mite desde o pensamento oníríco inconsciente até o pensamento consciente mais elaborado. Já na mobilização há um movimento maciço da personalidade, no sentido de “aliviar o aparelho mental de adições de estímulos”. Os elementos beta são evacuados para fora do aparelho mental através da identifi­cação projetiva. Porém, junto com esta função primária de descarga, há uma importantíssima função secundária de comunicação. “O enchimento dos neurônios nucleares em psi terá como resultado uma propensão à descarga, uma urgência que se libera por via motora. A experiência demonstra que aqui, a primeira via a ser seguida é a que conduz à alteração interna (expressão das emoções, grito, inervação vascular)... O organismo humano é, a princípio, incapaz de levar a cabo esta ação específica. Ela se efetua por meio de assistência alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é atraída para o estado em que se encontra a criança, mediante a condução da descarga pela via da alteração interna (por exemplo, pelo grito da criança). Essa via de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária da comunicação (...)” (Freud, 1895, pags, 421-422). Mas que espécie de comunícação é esta? Evidentemente não se trata de comunicação simbólica, pois esta se realiza por intermédio de elementos alfa. Seria, antes, um tipo de comunicação primitiva, que se utiliza dos elementos beta. Os conceitos de identíficação projetiva e contraidentificação projetiva cobrem adequadamente esta espécie de comunicação. O sentimento contratransferencial, como já foi dito, é de não haver um espaço-tempo separando terapeuta de cliente. A sensação é a de que os conteúdos de um dos membros da díade terapêutica são jogados diretamente no no interior do outro, comovendo-o, mobilizando-o, motivando-o a atender ao apelo primitivo.
Na prática clínica, como seria de se esperar, não é possível distinguir facilmente o sentimento de estar sendo manipulado do de estar sendo mobilizado. As misturas e confusões são frequentes. O funcionamento da tela-beta e da barreira-de-contato podem se alternar em curtos períodos de tempo; os elementos alfa despojados não se distinguem de beta (Bion, 1962, pág. 41), os elementos alfa que deveriam ser usados no “pensar” podem ser empregados na identificação projetiva, como se fossem elementos beta (ibid., pág.102); é também possível, estar o cliente funcionando em termos de princípio de realidade, e mesmo assim utilizar-se de elementos beta ou de elementos alfa despojados como forma de comunicação mobilizadora. Não obstante estas dificuldades, mantém-se a importância da distinção entre mobilização e manipulação. A partir do conhecimento desta diferença é possível apurar cada vez mais a sensibilidade para detectá-la. Um exemplo: O cliente é de um psicanalista a quem dei supervisão. Apresenta um dinamismo depressivo predominante. O sintoma depressão surgia em pelo menos dois pontos da da cadeia dinâmica típica do dinamismo depressivo. Ou surgia da frustração – raiva, ou a partir de uma quase absoluta desesperança de reconquistar a proteção da Mãe Onipotente Idealizada No primeiro caso, surtiam efeito as interpretações referentes à raiva dirigida contra si próprio, com a fInalidade de, 1º – castigar a Mãe Idealizada Abandonadora e 2º - fazer com que esta Mãe Idealizada tivesse um desempenho Protetor Onipotente. É claro que aqui estamos no nível de pensamento onírico (Bion, 1962, pag, 143) e, portanto, de elementos alfa. Trata-se, então, de uma manipulação que deve ser interpre­tada. Estas mesmas interpretações não surtiram efeito quando a depressão era fruto de uma desesperança sentida em relação à possibilidade de reconquista da Mãe Onipotente. Estamos, aqui, na região do apelo primitivo, da mobílização dos elementos beta, da identificação e da contraidentificação projetiva. Nestas circunstâncias, o que funcionou foi uma atitude de com­preensão, receptividade, acolhimento maternal. As intervenções eram do tipo “Você está se sentindo só...”, que revelavam uma empatia do terapeuta com o analisando. Tendo o analista podido sentir a diferença entre manipulação e mobilização, pôde responder adequadamente às duas espécies do sintoma “depressão” que ocorreram no quadro do dinamismo depressivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BION. W. R. (1962): “Os Elementos da Psicanálise”, 1ª Edição – Rio de Ja­neiro, Zahar Editores, 1966.
FREUD, S. (1895): “Projeto para uma Psicologia Cíentifica”, Edição Stan­dard Brasileira, Vol. I, Rio de Janeiro, Imago Ed. Ltda. – 1ª Edição, 1977.
FREUD. S. (1911): “Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental”, Idem, Vol XII
FROMM-REICHMANN, F. (1962): Psicoterapia de las Psicoses, Buenos Aires, Ediciones Hormé.
MILNER, M. (1969): The Hands of the Living God, New York, International Universities Press.




[1]  Título original: “Distanciamento X Envolvimento: Uma opção necessária?” – GRADIVA, n. 6, agosto de 1980.