CÉREBRO E MENTE

                                               Nahman Armony
Depois de ler a revista “Mente e Cérebro” de dezembro de 2012, cujo maior conteúdo explícito e implícito são as relações entre estas duas noções tive a seguinte intuição: quem pensa é o cérebro. Muitos fenômenos acompanham a atividade do cérebro. Para maior facilidade de exposição e compreensão vou me referir a dois funcionamentos do cérebro. Um é o funcionamento sub-cortical onde temos um conjunto de fenômenos elétricos e químicos e provavelmente outros. Mas quero rever agora esta questão de atividade sub-cortical. Esta expressão serve como introdução e vou continuar nela pela simplificação que representa. Depois voltarei a ela. A atividade sub-cortical sozinha é inconsciente, isto é, entre os fenômenos que acompanham sua atividade não está a consciência. Quando a atividade sub-cortical é acompanhada de atividade cortical mais um fenômeno se acrescenta ao conjunto de fenômenos já existentes. É um sentimento de Eu, uma percepção consciente de si mesmo (“Eu, percebo, eu vejo, eu estou fazendo, etc.”). Isto é, quando o cérebro funciona com mais redes de neurônios aparece uma nova função, a função da consciência acompanhada de um sentimento de Eu. Parte do funcionamento subcortical (emoções) é percebido por um Eu que depende justamente de um certo mapa de redes cerebrais em funcionamento. O cérebro pensa inconscientemente quando certas redes estão em funcionamento mas não outras. Uma certa configuração de redes cerebrais em funcionamento tornam possível ter consciência das coisas, perceber-se como um Eu em oposição a um não-Eu. Vou dizer de onde tiro parte desta especulação. As imagens cerebrais revelam que algum tempo antes da pessoa realizar um movimento ou tomar consciência de alguma coisa a rede cerebral responsável pelo movimento ou pela percepção já tinha entrado em atividade. Primeiro eu penso com o cérebro, e depois de milisegundos ou segundos o resultado deste pensamento cerebral é percebido por um Eu consciente que também é o resultado de uma rede de neurônios em funcionamento. A primeira escolha é feita por um conjunto neuronal que não se torna consciente. Mas pode haver uma segunda escolha a partir da percepção consciente. Uma escolha mais tardia. Exp.: Tenho duas opções de caminho. Meu funcionamento cerebral inconsciente faz-me optar pelo caminho A e eu penso que foi minha escolha consciente quando na verdade foi uma escolha inconsciente à qual dei prosseguimento com a minha ação de entrar por aquele caminho. Mas agora já estou consciente de minha escolha cerebral inconsciente e posso rever esta escolha mobilizando outros circuitos cerebrais. Se pensarmos filogeneticamente veremos que houve uma evolução desde o mais primitivo sistema nervoso até o nosso sofisticado cérebro. Houve muitas etapas que se caracterizaram por acréscimos do tecido e das regiões cerebrais. A cada novo acréscimo ocorria uma ampliação das possibilidades de percepção e ação e a autoconsciência é o topo atual dessas possibilidades e ninguém poderá afirmar com certeza se outros acréscimos acontecerão aumentando o nosso campo de percepção e ação.             

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