INFLUÊNCIAS
IDEOLÓGICAS NA VIDA AFETIVA DO ADOLESCENTE
Puberdade e
adolescência são períodos de transição, quando a criança se desprende dos pais
em favor de grupos de sua faixa etária. A opinião do grupo se torna cada vez
mais significativa, empurrando para a periferia a importância da aprovação dos
pais, embora estes, no inconsciente do adolescente, continuem a ser um esteio
de segurança. Mas a ideologia do grupo exerce poderosa pressão sobre o jovem. Vou-me
valer de um aspecto de ideologia jovem atualmente já não tão badalada mas que
servirá para tentar entender a espécie de conflito que acomete os adolescentes
e jovens adultos. Refiro-me ao “ficar”, que significa encontros sem compromisso
e encontros fortuitos. O “ficar” é um valor positivo nos grupos adolescentes.
Como ninguém quer estar out, este
valor é exercido pelos jovens. Mas há os que não se sentem bem com tal prática.
São vários os fatores que levam os jovens a gostar ou não do “ficar”.
Darwinianamente falando, como as mulheres produzem relativamente poucos óvulos
na vida fértil, têm de escolher o parceiro sexual mais perfeito possível. Então
fazem uma seleção cuidadosa, não se deixando fecundar por qualquer um. Já o
homem, cujos órgãos sexuais produzem milhares de espermatozóides, busca
garantir a transmissão e a sobrevivência de seus genes fecundando o maior
número de fêmeas possível. Nós, humanos, estamos longe desse nível biológico;
mas, quando se faz um levantamento mais global, é mais um fator a levar em
conta. O psicanalista húngaro Michael Balint diz que cedo se desenvolvem no ser
humano tendências para o apego (mundo ocnofílico) ou desapego (mundo filobático) ao objeto de
amor. Poderíamos dizer que no “ficar” predomina o desapego e no namorar
predomina o apego. Teríamos, portanto, dois tipos de pessoas: um com medo de
intimidade, precisando passar de parceiro para parceiro, e outro com medo da
novidade, da aventura, precisando se fixar em algo conhecido. Essas duas
tendências existem conjuntamente em proporções diferentes nas pessoas. Mas em
algumas a predominância de uma é tão poderosa que a outra renuncia à sua
expressão. Outro fator é a ideologia dos pais. Embora, como disse, em certo
período da vida o jovem a abandone para adotar a ideologia do grupo, o abandono
total é uma impossibilidade, pois a influência dos pais penetra na psique dos
filhos. Ela pode diluir-se quando outros fatores entram em jogo, mas sempre
estará presente. Assim, se a mentalidade da família for conservadora, o jovem
ou terá mais dificuldade com comportamentos libertários ou os realizará de
forma exagerada, como reação à poderosa proibição interna que carrega. Faz
parte também do equipamento pessoal a curiosidade pelo novo, pelo perigo e o
gosto pela segurança, pelo conhecido. Portanto, muitos são os fatores
envolvidos e sua resultante dependerá do jogo de forças entre eles. Poderá
ocorrer de o jovem se ver impulsionado a adotar comportamento diferente do dos
amigos, o que o fará sentir-se excluído, inferiorizado, incapaz de acompanhar
seu grupo. Então os pais, valendo-se da vinculação paterno-filial, podem se
apresentar para auxiliá-los. Mas deverão ser discretos, pois os filhos, mesmo
precisando de validação e apoio dos pais para o seu comportamento, mantêm o
desejo de serem independentes dos genitores. O apoio e a aceitação deverão ser
oferecidos com cuidado para que o jovem não sinta que estão querendo lhe
retirar a independência.
Nahman
Armony
Primeira
publicação na revista CARAS
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