IDENTIFICAÇÃO DUAL-POROSA


 

SEU BOM E MAU USO

         

        Tentarei colocar em circulação no campo das ideias e da subjetividade a noção de identificação dual-porosa.

        Tal identificação representa o extremo mais fluido das identificações em cuja outra ponta se encontram as identificações estáveis.

        A identificação dual-porosa passa-se entre dois seres que se relacionam de modo dual, isto é, sem interferência de um terceiro. Esses dois seres apresentam uma porosidade que deixa passar fantasias e afetos, possibilitando trocas subjetivas. Portanto a identificação dual porosa é um devir e como tal embarca nas ondulações da realidade, emaranhando-se nelas.

        Nesses tempos de rápidas transformações, a identificação dual-porosa pretende-se como o modo mais pertinente de relação/conhecimento/comunicação.

        O portador privilegiado da identificação dual-porosa é o borderline.

        O borderline, uma categoria clínica, é alçada ao status de modo de existência. Distingue-se o borderline ecológico do não-ecológico. O primeiro usa a sua capacidade de identificação dual-porosa a fim de encontrar o melhor equilíbrio para as unidades que constituem o todo. O segundo usa a sua capacidade de identificação dual-porosa em um sentido individualista, sem considerar o equilíbrio da totalidade.

        Falamos aqui, pois, do ser humano emergente do final do século XX. Trata-se de uma concepção de pessoa que difere daquela do século XIX e da primeira metade do século XX. O ideal de ser/fazer passou do homem “certinho” para o sujeito criativo. O homem certinho, separado de si mesmo, dos outros homens e da natureza por um terceiro termo, cujo melhor representante é a palavra intelectualizada, está cedendo lugar para um sujeito que se comunica diretamente consigo mesmo, com os outros e com a natureza, através de um processo de identificação contínua que permite que ele embarque nas incessantes ondulações transformatórias do mundo. Este sujeito poderá usar seu talento a serviço de si próprio, quando então sua sensibilidade será usada em seu exclusivo proveito, prejudicando os outros homens e a natureza; ou usará sua capacidade de identificação para incluir os outros homens, o mundo e a natureza no âmbito do seu eu, adquirindo uma consciência ecológica, deixando que surja uma esperança na evolução da humanidade.

 

                                               Nahman Armony

 

 

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