MONUMENTO À CIVILIZAÇÃO CONSUMISTA - Parte 5 -FINAL

Úlcera, tu és um monumento
Aos Deuses em movimento
De rotação.

Grande monumento
Ao desenvolvimento
À velocidade
À tecnocracia

Ansiedade
Eu te saúdo
Como o Novo Deus Moloch
Exigente
Cruel
Vital
Mola propulsora do progresso
Comedor de pessoas e afetos
De poesia e paz
Insaciável Deus Moloch
Que tudo exige
Compromissos
Educação
Sorrisos falsos
Dedicação
Esquecimento e renuncia
       às fontes mais puras do Ser
       ao bálsamo que vem muito de dentro.

Ah Deus Moloch!
Exiges que eu engula o mundo a fatias
Agressivamente
Maldosamente
Ah terrível Deus Moloch!
Não sei como te aplacar

Nenhum sacrifício feito
À tua boca faminta
Te satisfaz;
Queres cada vez mais
E mais.

Aí tens:
Homens, mulheres, afetos, esperanças...
Tudo isto é teu.
Não basta?
Toma então:
Cigarros, álcool, librium, mandrix...
Ah, não resistes?
Morres, hem?
Mas tua vingança
É fazer-nos morrer contigo.

Tua vingança
É acordar cada vez mais forte
Mais exigente.
Onde iremos chegar?
A que túmulo?
A que cidade perdida no céu?
A que inferno?
A que paraíso?

Oh nuvens!
Eu quero que vocês me envolvam
E me deem paz.
Oh montanhas de verde e suave declive!
Eu quero que vocês me acolham
No seu seio nutridor.
Oh Natureza!
Estou à sua espera
Para ser invadido
Dissolvido
Transmutado em nuvem
Em pássaro
Em som claro e silencioso.

Oh, Natureza!
São as sua lutas que desejo
Suas puras lutas
Lavadas pelo fogo
Pelo pássaro que defende seu ninho
Pela agua que penetra meus pés descalços
Pelo aroma que penetra meu nariz
Pelos sons que penetram meu ouvido
Que me invadem
E me dissolvem
E me levam a repousar
No grande regaço da Natureza
Esquecido um instante do Deus Moloch
Que porém está pronto
A espreita
Disposto a fazer valer os seus direitos
Inalienáveis.

Ah, meu pequeno Deus-Rotor
Minha firula multicolorida
Meu impensado ressentimento e culpa
De braços suaves
E hipnotizadores!
Meu pequeno engano
Minha mão quente e macia
E sábia
Muito sábia
Minha outra face do Deus-Rotor
Minha íntima conexão
Entre o dentro e o fora
Ah, meu amor não amado
Nem amante
Desejado
Pilularmente
Tu does no meu estomago
Para sempre.

                           Nahman Armony  

 

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