MORAR JUNTOS OU
SEPARADOS
As
estatísticas revelam que um número crescente de casais mora em residências
separadas. Quais as razões e quais as conseqüências?
Imediatamente
pensamos no individualismo atual tão falado pelos sociólogos. O individualismo
apresenta a vantagem de permitir uma conduta espontânea, uma liberdade de
movimentos, pois não está um outro presente para criticá-lo. Na multidão das
grandes cidades as ações de cada um tendem a passar despercebidas e é esta
diminuição da fiscalização que permite uma maior soltura.
O
individualismo é certamente uma das tendências humanas, a tendência a se destacar
dos outros para encontrar seus próprios valores, evitando a tensão e influência
das expectativas e desejos alheios. Podemos tomar como exemplo o eremita que se
isola para não ter de dar satisfação a ninguém, para viver a sua vida, de seu
jeito, dentro de seu querer. Esta situação exerce grande atração sobre algumas
pessoas.
Existe uma
outra tendência humana que é a gregária. A pessoa só se sente segura e em paz
quando pertence a uma família, a uma comunidade ou pelo menos a alguém outro. O
afeto recebido não só é tranqüilizador como também enriquecedor, despertando
sentimentos que só podem aparecer quando há uma outra pessoa afetando-a. A
pessoa então pode viver uma vida de sentimentos que vão dos sutis aos intensos,
e de uma gama muito variada. Não quer dizer que ao misantropo faltem
sentimentos: ele pode se emocionar com a natureza, com árvores, com o canto dos
passarinhos, com a música e até com as realizações da humanidade. Ele também
tem uma vida afetiva. O que lhe falta é a riqueza das trocas humanas, um leque
de emoções próprio da relação entre duas pessoas. Em compensação evita os
atritos, as pressões, as exigências que quase inevitavelmente existem nas relações
de casal. De qualquer maneira as estatísticas informam que as pessoas vivem
melhor quando coabitam. Será?
Vamos então ao
dilema: casal na mesma residência ou em residências diferentes?
As estatísticas
mostram que vem aumentando a preferência por moradias separadas. O choque entre
o novo status da mulher e antigo status do homem explica em parte esta
predileção. Ele espera que ela, tal qual nas gerações anteriores, se submeta
aos seus desejos, concordando irrestritamente com seu modo de pensar e de viver
a vida. Ela, porém, atualmente, valoriza suas opiniões, seu modo de viver e de
pensar já não aceitando ser um apêndice dele. Consciente ou inconscientemente apoiada
no movimento feminista, e no fato de contribuir financeiramente para as
despesas do casal, defende seus pontos de vista. O homem, desacostumado dessa
atitude feminina, tem dificuldade de aceitá-la, recusando-se a debater ideias
diferentes das suas. Cria-se então um atrito que só se abrandará quando houver
mudanças de mentalidade do homem e da mulher: nem ela é uma dependente rebelde
que se insurge contra o que seria próprio da natureza feminina nem ele é um
troglodita que quer dominá-la a qualquer custo. Trata-se, na verdade, de uma
luta entre dois paradigmas: o masculino que proclama a inferioridade feminina,
e o feminino que muitas vezes se excede na luta por uma relação igualitária (afinal
são séculos de dominação masculina), mas também vê a atitude do Homem não como
um paradigma naturalizado e sim como falta de amor. É preciso que ambos baixem
as guardas para que o carinho possa prevalecer levando à compreensão e
entendimento. Só então o casal poderá ter uma visão profunda da relação podendo
melhor escolher o que lhes parecerá convir.
Nahman Armony
Primeira publicação na Revista
CARAS.
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