Resumo
Estudarei a maneira pela qual os diversos dispositivos
da cultura incidem sobre a pessoa que virá a ser nosso analisando. Falarei de
uma cultura da modernidade e de uma cultura da hipermodernidade que
teoricamente correspondem ao exercício da repressão e da permissividade.
Falarei das influências destas culturas no homem concreto atual (portanto
também em nossos analisandos e em nós mesmos terapeutas) produzindo tanto
mal-estar quanto bem-estar. E, finalmente, apontarei os caminhos presumíveis de
superação do mal-estar da modernidade e da hipermodernidade tendo como um dos
principais guias o pensamento de Winnicott.
Palavras-chave: Modernidade, hipermodernidade, dialética, Winnicott,
mal-estar, borderline, identificação dual-porosa, ética, repressão,
permissividade
Introdução
O mal-estar causado pela palavra pós-modernidade, está se dissipando,
já que a maioria dos sociólogos resolveu proporcionar-lhe uma aposentadoria
provavelmente definitiva. Aqueles que a tinham não muito convincentemente
adotado como Bauman e Lipovetsky preferiram trocar de nomenclatura. O primeiro
chama o período em que vivemos de “modernidade líquida”[1],
resultado de uma gradativa evolução de uma modernidade sólida de séculos atrás.
O segundo passou a usar o termo “hipermodernidade”[2]. O
argumento de ambos é que a modernidade não foi propriamente superada, mas sim
levada a um extremo, mantendo suas características básicas que já apareciam no
capitalismo primeiro, o capitalismo de acumulação. Lá encontramos os primórdios
do consumo de massa: aumento crescente do comércio, ampliação gradativa dos
mercados, diversificação das ofertas, diminuição dos custos, incremento das
vendas, barateamento dos produtos; a mercadoria começa o seu avanço em direção
a uma posição de predominância que acabará por transformar as pessoas em
mercadorias. Esse avanço, portanto promove, juntamente com outros fatores,
transformações psicológicas o que é reconhecido tanto por Bauman quanto por
Lipovetsky[3].
Embora a hipermodernidade seja “apenas” uma exacerbação da modernidade ela é
acompanhada, segundo o próprio Lipovetsky, de uma drástica transformação na
subjetividade. Para efeitos deste trabalho considero que a subjetividade, desde
o início da modernidade vitoriana até hoje, apresenta três faces: uma primeira
de repressão com freio nos desejos e moderação no consumo; uma segunda de
permissividade, com estímulo ao consumo e liberação dos desejos. Estamos nos
aproximando de uma terceira. É o que diz Marcos Cavalcanti, pesquisador da
COPPE da UFRJ e pertencente ao “Novo Clube de Paris”[4].
Segundo esse grupo pensa-se em colocar um breque à pressa e à compulsão pela
totalidade da informação substituindo-as pelo conhecimento. Isto significa uma
desaceleração do tempo subjetivo que vai permitir a reflexão, a contemplação e
uma percepção/consciência mais apurada da totalidade que afeta a todos. É nesta
terceira fase ainda em gestação que eu insiro alguns achados de Winnicott que
me permitem dizer que se considerarmos a repressão como tese e a permissividade
como antítese, os conceitos winnicottianos de “holding”, “concern”, criatividade[5] e
outros representam uma síntese positiva e esperançosa desta dialética. Essas
noções ajudarão àqueles que percebem que a sobrevivência da espécie humana está
ameaçada e que é preciso fazer algo para pôr uma trava numa subjetividade
suicida, uma subjetividade que prioriza a informação em detrimento do
conhecimento, que realiza uma infinidade de tarefas ao mesmo tempo, uma subjetividade
acossada por competição e prazos dentro
de um tempo que acaba por se tornar inviável, uma subjetividade que está sempre
com medo de estar perdendo alguma coisa que está sendo dita ou acontecendo em
algum lugar. Numa entrevista Bauman pergunta[6]:
“Como chegamos a esse ponto? Cegueira?” (p.30). E
continua mais adiante: “Na sociedade contemporânea somos treinados desde a
infância a viver com pressa.....A arte de viver consiste em esticar o tempo
além do limite ..... a pressa --- e o
vazio --- é fruto disso, das oportunidades que não podemos perder. Elas são
infinitas se acreditamos nelas”(p.36). E mais: “Esse tempo de modernidade
líquida gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo. Não importa o quanto
tentamos nunca estaremos em dia com o que aparentemente nos é oferecido"(p.36).
Temos de aproveitar todas
as oportunidades. Daí a pressa. Mas só poderemos pensar em abarcar tudo se
estivermos livres dos grilhões da repressão. Então o mal-estar da
hipermodernidade encontra-se, ainda segundo Bauman[7], no
excesso de liberdade ou, traduzido à minha maneira, no excesso de
permissividade. Esquematicamente podemos dizer que o mal-estar da modernidade
tem a ver com a repressão e que o mal-estar da hipermodernidade tem a ver com a
permissividade. Prefiro a palavra permissividade à liberdade, pois a liberdade
da época atual tem suas limitações. Somos mais ou menos manipulados pela mídia,
pelas exigências da moda e pelo desejo de pertencimento. Não queremos ser tão
diferentes de nossos semelhantes a ponto de nos colocar fora da corrente de
sociabilidade. Queremos, porém ter uma marca que nos distinga dos outros, uma
marca de nossa individualidade. Queremos ser ao mesmo tempo iguais e
diferentes, pertencentes a um grupo, mas individualizados. Temos uma relativa
liberdade para escolher nosso caminho. Nisso o homem hipermoderno difere do
moderno ao qual era imposto um caminho prévio, já determinando o seu futuro.
Sua identidade social já lhe era dada a
priori. Para conseguir esta identidade social estável precisava de um Eu
coerente e constante o que só foi possível com a repressão de todos os seus outros
eus desejantes que habitam a alma humana. A permissividade da hipermodernidade
permite a convivência destes muitos pequenos eus e perturba as escolhas de
vida, provocando dúvidas, ansiedades, acúmulos, dispersões. O homem
hipermoderno vive mais num regime de dissociações que de repressões, o que lhe
permite ter à sua disposição os seus pequenos eus. Esse acesso simultâneo aos
muitos eus faz com que se sinta retalhado. Quando faz uma escolha é por tempo
limitado, indo de um pequeno eu para outro. Ou então uma coerência na ação
torna-se obrigatória em razão das exigências de sobrevivência, o que não abafa
a reivindicação de seus pequenos eus em obter satisfação. Esta situação pode
ser angustiante quando a dissociação é incompleta, pois por mais que se corra
não há tempo para atender a todas as solicitações dos muitos pequenos eus,
ainda mais porque muitas vezes eles são conflitantes entre si e em relação à
corrente egóica predominante naquele momento.
Esta é uma amostra inicial de um quadro contemporâneo
apresentado à maneira de impacto. Vou passar a desenvolvê-lo mais lenta e
sistematicamente, embora com isso se perca a leveza da escrita.
A modernidade e seu mal-estar
Eu me propus a desenvolver este artigo dentro de
uma dialética de inspiração hegeliana que atribui o movimento do espírito a uma
seqüência cuja primeira proposição é a tese – uma afirmação, a segunda é a
antítese que nega a afirmação da tese, e a síntese que é a resultante do embate
da tese com a antítese. Por sua vez a síntese se transformará em nova tese que
trará em seu interior uma antítese e assim por diante.
Vejamos então a primeira proposição que é a
tese, proposição preenchida pelo processo de repressão/recalque.
Um dos
importantes achados de Freud foi a conexão da repressão com o mal estar da
modernidade como ele mostra em “O mal-estar na civilização”. Cada ser humano
tinha de renunciar à realização plena das suas pulsões para poder viver em
sociedade. Citando Freud:
"Em terceiro lugar, finalmente — e isso parece o mais importante de tudo —, é impossível
desprezar o ponto até o qual a civilização é construída sobre uma renúncia ao
instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a não-satisfação (pela opressão,
repressão, ou algum outro meio?) de instintos poderosos. Essa ‘frustração
cultural’ domina o grande campo dos relacionamentos sociais entre os seres
humanos. Como já sabemos, é a causa da hostilidade contra a qual todas as
civilizações têm de lutar. Também ela fará exigências severas à nossa obra
científica, e muito teremos a explicar aqui. Não é fácil entender como pode ser
possível privar de satisfação um instinto. Não se faz isso impunemente. Se a
perda não for economicamente compensada, pode-se ficar certo de que sérios
distúrbios decorrerão disso"(p.118)[8].
Apresentada
esta genial síntese freudiana sobre a modernidade vou agora destrinchar o que
ficou escondido na barriga desta generalização. Antes farei pequenas viagens
pontuais ao passado da repressão.
Os padres da Idade Média exigiam uma extrema contenção da
sexualidade e não admitiam o usufruto dos prazeres da vida. Eles impunham a
seus párocos a caça implacável e o aniquilamento completo de qualquer
manifestação de desejo que não fosse o de servir a igreja e seus preceitos. Quando
surge a ciência com sua reivindicação de objetividade as manifestações
subjetivas tornam-se depreciadas. Essa reivindicação estendia-se até ao
significado das palavras que deveriam ser precisas perdendo sua aura de
mistério e poesia. Falar tornou-se um problema, pois a espontaneidade do
discurso com suas inevitáveis figuras de retórica, metáforas, imprecisões, vaguezas
poéticas e paradoxos eram vistas com maus olhos pelos adeptos da exatidão
científica. O sucesso incontestável da ciência invadiu todas as áreas da
atividade humana, fazendo do cientificismo uma doutrina cada vez mais poderosa,
preparando o cenário para o aparecimento da era vitoriana em que a repressão firmemente
se instala adquirindo eficientes mecanismos de ação. Foucault encontrou um
exemplo paradigmático do processo de repressão na estrutura do panóptico[9]:
de uma torre central todas as celas podiam ser vigiadas o que obrigava aos
prisioneiros uma disciplina que eles impunham a si mesmos, pois nunca sabiam se
estavam sendo observados ou não. Esse observador do panóptico é análogo ao
superego freudiano que é também uma estrutura central observadora e punitiva
com a diferença de que se trata de uma estrutura central interna e não externa
como no panóptico. Podemos dizer que o superego é um correlato de uma atividade
panóptica da sociedade, atividade esta que torna a repressão e o conseqüente recalque
onipresentes na modernidade vitoriana.
Como vimos, Freud atribuiu, grosso modo, o mal-estar da
cultura, (cultura da modernidade) à atividade da repressão. Seguindo o
prometido vamos agora explorar os conteúdos e processos desta cultura.
No bojo da repressão/recalque encontramos o autoritarismo e as
várias dicotomias das quais as que mais nos interessam são a dicotomia
sujeito/objeto, a dicotomia semideuses/meros mortais (onipotência/impotência) e
a corpo/alma, pois são questões que ainda encontramos freqüentemente em nossos
consultórios provocando sintomas, mal-estar e mal-entendidos.
Embora o recalque, assim como a dissociação sejam processos constitutivos
e defensivos universais, no neurótico predominam os processos de repressão e
recalque enquanto que no borderline os processos de dissociação ganham
proeminência. No neurótico o recalcado impedido de verbalização direta devido a
uma ação proibitiva de um superego comprometido com a preservação de um eu ideal
se expressa sob forma de sintomas. Temos aqui duas questões: o mal estar
por um excesso e má distribuição dos recalques e os possíveis dolorosos sintomas
daí decorrentes. O analista levará em consideração estes dois aspectos. Se os
processos de repressão/recalque funcionarem para além de uma certa intensividade,
o trabalho de desrepressão, isto é, tornar o inconsciente consciente, será um
interminável trabalho de Sísifo. Para romper a compulsão à repetição será
preciso não apenas conscientizar os desejos reprimidos, mas principalmente agir
sobre o próprio processo de recalque que é um processo de defesa associado a
uma certa maneira de vivenciar o tempo. O recalque imobiliza a memória não
permitindo que ela flua livremente. O tempo do neurótico é um tempo petrificado
que não progride. Esta forma de vivenciar o tempo imobiliza o acontecimento em
um cubículo estanque não permitindo sua dissipação, mantendo-o como uma espinha
irritativa produtora de sintomas. Será preciso fazer o tempo fluir para
libertar o acontecimento traumático de sua prisão diluindo-o no devir. Não
basta pôr a nu o motivo do recalque. Será preciso também modificar o modo de
vivenciar o tempo para que não se instale a compulsão à repetição, pois mesmo
consciente das motivações a pessoa repetirá o mesmo comportamento ou manterá o
mesmo sintoma caso não mude sua relação com o tempo. Se o analista colocar-se
em estado de vir-a-ser, de tempo fluido, acompanhando os movimentos fractais e
imprevisíveis do analisando, facilitará, por um processo de identificação, a
entrada de este no devir, propiciando a liquefação do reprimido e alterações nos
dinamismos intersubjetivos.
A subjetividade
neurótica, conveniente à modernidade, pede um comportamento obediente, rígido e
regido pelas regras da hierarquia. Seu pensamento é dicotômico. Há os que
mandam e os que obedecem sem questionamentos. Numa relação analítica o
analisando é um objeto esquadrinhado por um cientista neutro, possuidor de um
conhecimento inconteste de seu inconsciente. O analisando é meramente um mortal
enquanto o analista habita o Olimpo dos deuses. Uma análise que não rompa esta
dinâmica dicotômica tem como destino fazer do analisando uma cópia do analista,
tornando-o também portador de uma verdade incontestável que todos deverão
aceitar. Como veremos adiante, a psicanálise na hipermodernidade realiza-se não
em um regime dicotômico, mas em um registro unitário, onde dois seres humanos
se encontram para aumentar a potência de vida. Importante expor aqui uma
diferença entre dicotomia e dualidade. A dualidade não nega as diferenças (nem
as semelhanças), mas coloca dois sujeitos que se relacionam no mesmo patamar qualitativo,
participantes do mesmo universo ontológico. Na dicotomia cada sujeito pertence
a uma substância diferente. Semideuses pertenceriam a uma substância e meros
mortais a outra. Em contraposição a esta concepção dicotômica existe uma
concepção dualista que enxerga não um sujeito e um objeto com diferenças ontológicas,
mas dois sujeitos que pertencem a uma humanidade comum, cada qual, porém, com
suas características próprias. Não há semideuses e humanos, mas apenas humanos
com diferentes experiências, conhecimentos e sensibilidades que se encontram
para estabelecer uma relação produtiva de crescimento e criatividade através da
qual se reduz o mal-estar e o sofrimento.
Outros valores da modernidade que também têm a ver
com o processo de repressão/recalque são a disciplina, a ordem, o respeito, a
organização, o controle, a objetificação, a reverência hierárquica, a distância
afetiva, o convencionalismo. Sem dúvida são características que darão um certo colorido
à relação e às quais o analista deverá prestar atenção, levando-as em
consideração.
Sentimentos de honra, de pundonor derivados do
recalque são encontrados no consultório. Quando estão a serviço da preservação
da auto-imagem podem vir a constituir um enorme obstáculo à honestidade e à
sinceridade na relação terapêutica. Exigirá do analista toda uma paciente
costura que terá como alguns dos fios a aceitação incondicional, a perseverança
tranqüila, e um comportamento poroso, aberto e sincero. A resultante bem-vinda
será a instalação de uma relação de confiança mútua. A valorização social do
sentimento de honra e pundonor é um obstáculo a mais para abertura de um espaço
honesto.
A trajetória de vida do neurótico modelar é
retilínea e acumulativa. Este resultado é conseguido com o recalque dos muitos
desejos e pequenos eus a fim de que reine absoluto e sem contestação o Eu
“Verdadeiro” com seu desejo único. O impedimento do retorno à consciência dos
pequenos eus provoca sentimentos de insatisfação, de inutilidade da vida, de
incompletude e vários sintomas.
Pelo seu aspecto neurótico, a pessoa está
aprisionada por convenções, regras e leis ficando com a sua espontaneidade e criatividade coartadas. A
barreira do recalque dificulta a percepção de seu inconsciente, do inconsciente
do outro e da subjetividade circulante.
A
comunicação neurótica é mais superficial que a borderline, pois está barrada
pelo convencionalismo das palavras e dos valores especialmente os da hierarquia
que impedem o diálogo íntimo.
A
vida neurótica está normatizada e segue os trilhos consagrados pela tradição e
pelos preconceitos. A saúde psíquica do neurótico “normal” está resguardada
pelo recalque das grandes inquietações existenciais, mas tende a ser tensa e
descolorida, pontilhada de irrelevantes sintomas e pequenas obsessões.
A
culpa é um sentimento onipresente no funcionamento neurótico. Nesse modo
existencial uma Personificação de Autoridade inconsciente atormenta e controla
o sujeito. Sendo essa Personificação de Autoridade a responsável pela sua culpa
caberia a ela tirá-lo do atoleiro da depressão. Esta expectativa atiça a culpa elevando-a
a um ápice insuportável quando uma intervenção se faz necessária. A
Personificação de Autoridade terá então cumprido a sua função imaginária. A culpa é também uma maneira de reter o
fluxo do tempo, pois ela mantém os acontecimentos paralisados na memória.
O neurótico modelo está mais voltado para si mesmo
do que para o exterior. Mais se interioriza que se exterioriza. Ele preserva a
sua intimidade. Reluta em falar de suas fraquezas, de tudo aquilo que poderia,
na sua concepção, ser criticado pelo analista. Envolve-se em uma capa protetora
que avalia e filtra tudo o que vem de fora. Dentro de sua concepção é ele quem
deverá resolver os seus problemas. O outro não tem nenhum papel a desempenhar a
não ser lhe fornecer dicas de questionável importância. Estas características
dificultam o estabelecimento de uma relação de intimidade.
As considerações acima se referem à primeira fase
da dialética inicialmente proposta, a fase da repressão.
A
hipermodernidade e seu mal-estar
Passemos para a segunda proposição dialética. Coloco
como antítese da repressão, a permissividade. É justamente a permissividade que
domina a hipermodernidade. A permissividade provoca o aparecimento de outra maneira
de ser e viver diferente do modo neurótico. É o modo borderline, típico do
período em que vivemos. O borderline não internaliza um firme superego que lhe garantiria
incontestáveis pontos de referência. Solto no mundo, com suas valências
identificatórias abertas[10],
sem uma forte identificação com os valores dos pais, necessita da aprovação do
ambiente. Esta seria uma das razões das intimidades expostas nos webblogs e
webcans. Seus valores não são fixos, pois não estão regidos por um código
interno. Dependem da reação do ambiente. Se aprovados sentem-se bem. Se desaprovados
ficam envergonhados de terem tido uma conduta inadequada. Na hipermodernidade
(ou modernidade líquida) predomina a cultura da vergonha sobre a cultura da
culpa.Também as formas de vivenciar o tempo e a interioridade se modificam.
Paula Sibilia[11]
escreve:
"A eficiência e a eficácia ---- a capacidade de
produzir determinados efeitos ---- tornam-se justificativas auto-suficientes
que dispensam toda explicação causal e qualquer pergunta pelo sentido”..... A
velha função do passado parece ter caducado: o passado não serve mais para
conceder inteligibilidade ao caótico fluir do tempo, e nem para explicar o
presente ou a mítica singularidade do eu.
(p.40)....esses novos fenômenos revelam mais um traço no processo de reconfiguração
que atravessam as subjetividades contemporâneas. Os gêneros autobiográficos que
proliferam na Internet são sintomáticos destas novas torções subjetivas, por
evidenciarem importantes mudanças nos valores atribuídos à idéia de interioridade e ao estatuto do passado como
dois alicerces fundamentais do eu. Essas
duas noções foram primordiais na constituição das subjetividades modernas e,
apesar da sua permanência como fatores ainda relevantes, parecem estar perdendo
seu peso na definição do que cada um é"(p. 48).
Estas
citações são importantes por nos remeterem a situações clínicas atuais: muitos
analisandos não se interessam por ter um conhecimento penetrante de sua vida
subjetiva. Esta mais parece um produto da relação analista-analisando. Há uma falta
de interesse quanto à origem e resolução dos sintomas. Eles são aceitos como
quase incontornáveis características idiossincráticas, algo próximo da ordem da
necessidade e, portanto praticamente inacessíveis à investigação. O passado dos
sintomas não lhes interessa, e a perturbação provocada por eles é aceita e
integrada nas ações. Interessa-lhes o presente. Isto coloca mais um desafio
para o analista que em uma primeira instância conversaria sobre as dificuldades
objetivas do presente buscando soluções sem procurar suas origens no passado, tentando
encontrar com o analisando um equilíbrio pessoal e social que inclua os
sintomas e os dinamismos expostos ---- e isto dá lugar a um intenso diálogo
entre analista e analisando; em uma segunda instância tentariam ultrapassar os
obstáculos, entendendo as dinâmicas que estão ocorrendo no momento mesmo dos
acontecimentos: isto parece agradar menos ao analisando que ouve sim, o que o
analista diz, mas que passa batido pelo dito como se fosse uma parte não
importante da conversa, não dando continuidade ao assunto, e continuando a
falar como se nada lhe tivesse sido dito. Porém, com o tempo, dá para perceber
que as palavras do analista tiveram efeito; em uma terceira instância procurar
a dinâmica no passado. A isto o analisando é ainda mais refratário e a ocasião
para fazer tais interpretações deve ser bem escolhida, isto é, deve fazer parte
do devir de uma conversação normal que por acaso tocou na infância, sem uma
impostação que transmita a impressão de que algo professoral e básico esteja
sendo dito. Podemos perceber, dentro de certo prazo, o efeito positivo da
interpretação. Mas o que predomina é o repúdio pelo passado e uma forte
inserção no presente que dificilmente se estende para um futuro, pois este se
apresenta imprevisível e então há pouco que falar sobre ele. É claro que as
coisas não são tão simples e esquemáticas como as apresento, pois estamos
lidando com situações de complexidade. Mas servem para nos situar melhor diante
dos aspectos hipermodernos da subjetividade.
O que mais se pode dizer do sujeito hipermoderno? Quais
outras conseqüências de uma sociedade e educação permissivas? A mais óbvia é a
falta de limites; a pessoa cresce com a convicção de que tudo o que existe no
meio social pertence de direito a ela. É dever de a sociedade abrir-lhe todas
as portas. “É proibido proibir”[12].
É inconcebível que se ponham limites aos seus desejos. Ser contrariada é um
crime de lesa-majestade, impossível sequer de se pensar ---- uma aberração da
natureza, um tabu. É evidente que nestas circunstâncias os direitos e
sentimentos dos outros não conseguem ser sequer vistos.
O complemento social desta atitude pessoal é a
abundância potencial de ofertas e oportunidades que a sociedade coloca à
disposição. O encontro dos pequenos eus desreprimidos com a virtual abundância
de ofertas sociais tem várias conseqüências: os muitos pequenos eus
embriagam-se com as muitas ofertas tentando dar conta de todas elas,
comprimindo o tempo, e entrando em ansiedade. Muda a maneira de vivenciar o
tempo: é preciso correr para dar conta de todas as tentações e para chegar
antes. A velocidade assimilada pelo corpo/psique torna-se parte integrante do
ser e converte-se no ritmo da hipermodernidade, um “prestissimo” febril e
ansioso. Também a idéia de não perder nenhuma oportunidade provoca ansiedade e
pressa. A pessoa nunca se dá por inteiramente satisfeita com suas escolhas,
pois lá adiante pode haver algo muito melhor. A pergunta não é “fiz uma boa escolha?”,
mas “será que perdi alguma coisa fabulosa, ‘irada’”? As outras inúmeras
possibilidades desconhecidas fazem sua ronda tentadora e constante em torno da
cabeça de nosso voraz protagonista sussurrando em seus ouvidos possibilidades
de escolhas melhores, de aparecimento de oportunidades incríveis que
transformarão por completo sua vida. E será preciso lá chegar antes que outros
se apossem da chance. É comum um movimento errático em que o jovem passa de um
investimento para outro à procura daquilo que “seria o melhor dos máximos”.
Um aspecto positivo a ser considerado é a
porosidade que o jovem da hipermodernidade apresenta e que lhe permite ter
acesso ao seu inconsciente implícito e à subjetividade da sociedade em
transformação. Este é um aspecto a ser preservado. O terapeuta deverá ter muito
cuidado com o que chamamos de interpretação, pois ela poderá entupir a
porosidade, impedindo o acesso aos aspectos femininos, ao inconsciente e à
percepção da subjetividade social corrente. A preservação da porosidade
permitirá um trabalho terapêutico que irá além do representacional, propiciando
aquilo que Freud chamou de comunicação de inconsciente a inconsciente e que tem
a ver com algo misterioso, sim, mas também com os sutis movimentos, expressões,
mímicas faciais, olhares, modulação de voz e tantas outras coisas que
freqüentemente estão fora do campo de nossa consciência e que, portanto, não
controlamos. Por essa razão o analista precisa ter um “cuidado de si”[13]
que permita que seu corpo/psique demonstre, propague, passe uma verdadeira
renúncia psicocorporal ao narcisismo e um verdadeiro acolhimento psicocorporal
consciente e inconsciente da pessoa do analisando tal qual ele é no momento da
relação. Esta seria a atitude ideal, porém nem sempre presente, já que o
analista por mais que tenha “cuidado de si”, terá com alguma freqüência o seu
inconsciente corporal implícito e afetivo mobilizado de uma maneira mais ou
menos afastada da ideal, especialmente diante dos novos analisandos que o
procuram. Deverá então ficar o mais possível atento às suas reações corporais e
ao tipo de cargas afetivas que estão sendo produzidas, e então tentar progredir
em direção a uma atmosfera de conforto, confiança, relaxamento, ritmos
sincrônicos e interesse afetivo[14].
Bauman
nos fala que na modernidade líquida existe um desrespeito pelo compromisso[15]. Esta
é uma experiência freqüente de todos nós. Só somos levados a sério se, no
momento, apresentamos algum interesse pragmático. Caso contrário somos
ignorados. A sociedade nos trata como mercadorias a serem consumidas[16]. Isto
afeta nosso sentimento de valor com direito à deferência e consideração. Não somos
vistos como pessoas com uma subjetividade a ser respeitada, mas como mercadorias.
Se, para ser levado em consideração é preciso que o sujeito seja mercadoria ele
se esforça por sê-la.
O
conhecimento e assimilação destes fatos sociais podem modificar o equilíbrio
narcísico de nossos analisandos. Daí a importância do analista poder apresentar
um panorama da subjetividade social em que vivemos, um de cujos aspectos é não
dar importância ao indivíduo como uma singularidade subjetiva a ser respeitada.
Ainda
falando do narcisismo e de suas possibilidades de transformação: uma abertura
pessoal que permitisse a compreensão da subjetividade do outro, colocando em
suspensão as reações emocionais à crítica alheia, à desconsideração, ao
apontamento de seus defeitos seria uma importante aquisição no campo do
narcisismo. “Será que ele tem razão de em me ver e sentir desta maneira? Quais
são os seus motivos?” são perguntas a serem feitas permanentemente. Colocar a
indignação entre parêntesis para avaliar o quanto a palavra do outro é
pertinente (e aí é preciso levar em consideração o contexto em que a “ofensa”
acontece) para até poder se aperfeiçoar, e também compreender o outro, as
razões de seus ataques e de suas críticas. Importante distinguir entre a ofensa
com a intenção de ferir e o apontamento de características sem esta intenção.
Não significa que se deverá adotar uma atitude indiferente, sem emoção. Esta
certamente deverá estar presente, mas integrada a um questionamento
não-narcísico.
O mal-estar
advindo da desconsideração, da objetificação, da transformação em mercadoria
pode ser fortemente atenuado por uma redistribuição dos sentimentos narcísicos.
Uma compreensão da subjetividade pessoal do outro e da subjetividade social
contemporânea cumprirá esta tarefa. A auto-estima advirá então desta nova
distribuição narcísica. Este remanejamento encontrará enormes resistências,
pois para isso deveremos vencer nossos atavismos. Será certamente uma tarefa de
muitas gerações. Esta nova subjetividade difícil de se instalar diante das
reações espontâneas hereditárias de cada um, só aos poucos, mediante pequenos
atos, atitudes e mínimas transformações se espalhará por uma espécie de osmose
psíquica pelo corpo societário. E será importante aprovar explicitamente
qualquer passo nessa direção. O
sentimento de “estar ferido em seu amor-próprio” quando uma característica/“defeito”
é apontada deverá ser substituído pela valorização do autoconhecimento e de
heteroconhecimento das dinâmicas em jogo.
A situação
de intensa disputa da hipermodernidade que aproveita qualquer brecha para
atacar e diminuir o outro torna ainda mais difícil esta trajetória. Aquele que
procura substituir o sentimento de honra pela sinceridade e honestidade
encontrará dificuldades diante da hipercompetitividade de nosso tempo.
Este
é um quadro sociológico que devemos conhecer para ajudar nosso analisando a se
situar no mundo atual; sem isso ele ficaria perdido, sem compreender os
acontecimentos, e atribuindo a si o que faz parte de um contexto social.
A conjugação da abundância de ofertas vindas da
sociedade (excesso de ofertas externas) com a desrepressão dos pequenos eus
(excesso de demandas internas) produz uma atividade incessante e febril. Este
excesso provoca desorientação, ansiedade, exaustão.
Sem dúvida a psicanálise contribuiu, com o conceito
e trabalho de desrepressão para a permissividade descontrolada e o mal-estar da
atualidade. Não era esta, porém a intenção de Freud. Pelo contrário, um de seus
postulados básicos apresenta o recalque como constitutivo da personalidade. Mas
recalques obsoletos e fora de lugar são inúteis e provocam sofrimento. Faz-se
necessária uma redistribuição dos recalques. Repressões úteis devem ocupar o lugar
das repressões infantis irracionais. Em suas palavras:
"A análise, contudo, capacita o ego, que atingiu maior
maturidade e força, a empreender uma revisão dessas antigas repressões; algumas
são demolidas, ao passo que outras são identificadas, mas construídas de novo,
a partir de um material mais sólido. O grau de firmeza dessas novas represas é
bastante diferente do das anteriores; podemos confiar em que não cederão
facilmente ante uma maré ascendente da força instintual. Dessa maneira, a
façanha real da terapia analítica seria a subseqüente correção do processo
original de repressão, correção que põe fim à dominância do fator quantitativo"[17].
Porém o movimento da
sociedade foi mais radical e ao processo de desrepressão não se seguiu uma
repressão seletiva e adequada como Freud esperava. A desrepressão tornou-se
liberação geral das pulsões. Quando falo de movimento geral da sociedade
refiro-me à passagem do capitalismo de acumulação para o capitalismo
consumista, da contenção ao desperdício, da criação de modismos e de novas
necessidades para aumento do consumo; e também da falta de limites de cada um
que se sente no direito de fazer o que quer sem respeito nem à lei nem ao
direito do outro, à roubalheira desenfreada, aos excessos de velocidade com aumento
de mortes, à desobediência a regras necessárias ao bom convívio, ao uso do
poder e das leis para benefício próprio.
Um quadro desolador. E sem dúvida, mesmo
que involuntariamente, a psicanálise contribuiu para isso com a difusão da
idéia de desrepressão.
Síntese – A ecologia humana como caminho
Contribuições de Winnicott
Passemos
agora da desrepressão, componente fundamental da antítese, para uma síntese à
qual eu darei o nome de ecologia. Tese --- subjetividade repressiva. Antítese
--- subjetividade permissiva. Síntese ---- subjetividade ecológica.
De
que ecologia estou falando? Veremos, na pesquisa que realizei, a evolução da
concepção de ecologia, desde a ecologia simples, passando pela ecologia social
e outras até a que mais nos interessa: a ecologia humana. Começarei pelo site
pessoal de Ivair Gomes[18].
"O termo "Ecologia" foi criado por Haeckel
(1834-1919) em 1869, em seu livro "Generelle Morphologie des
Organismen", para designar "o estudo das relações de um organismo com
seu ambiente inorgânico ou orgânico, em particular o estudo das relações do
tipo positivo ou amistoso e do tipo negativo (inimigos) com as plantas e
animais”. Aparece pela primeira vez, no Brasil, em Pontes de Miranda, 1924,
"Introdução à Política Científica". O conceito original evoluiu até o
presente no sentido de designar uma ciência, parte da Biologia, e uma área
específica do conhecimento humano que tratam do estudo das relações dos
organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e sociais
que compreendem seu ambiente"[19].
Vemos aí uma progressão da
concepção de ecologia que de relação dos organismos com seu ambiente natural
orgânico e inorgânico passa a incluir o social que, de um certo ponto de vista
(que não é o meu), é de uma ordem diferente do natural.
Passemos
à citação de Maria Silva[20].
Ela fez uma adaptação do livro “The Green Fuse – Social Ecology”. Começa
citando uma frase de Murray Bookchin que se encontra na p.1 de seu livro “A ecologia da liberdade”: "A dominação da natureza pelo homem tem
origem na própria dominação do humano sobre o humano."
E
segue resumindo:
"A ecologia social reclama que a crise ambiental é um
resultado da organização hierárquica do poder e da mentalidade autoritária,
enraizada nas estruturas da nossa sociedade. A ideologia ocidental da dominação
da natureza advém destas relações sociais....A alternativa é uma sociedade
baseada em princípios ecológicos; uma unidade orgânica na diversidade, liberta
da hierarquia e baseada no respeito mútuo pelo interrelacionamento de todos os
aspectos da vida. Se mudarmos a sociedade humana, as nossas relações com o
resto da natureza também se modificarão."
As relações humanas são
introduzidas como origem e parte dos problemas ecológicos os quais só serão
resolvidos quando as relações humanas deixarem de ser relações de poder, hierárquicas
e autoritárias. O equilíbrio da natureza em sua totalidade depende então, em
grande parte, do equilíbrio nas relações humanas.
Uma
última referência à Maria Silva - ela cita John Clark autor de “Renovando a
terra”:
"A ecologia mostra que a natureza nos pode fornecer
princípios éticos. Um ecossistema vigoroso maximiza a diversidade e a
interacção e minimiza a hierarquia e a dominação. O melhor de tudo é que é
arquivado/conjugado/alcançado através de uma ‘individualidade rica e um
complexo interrelacionamento das partes.’"(p.5)[21]
A
concepção de uma ecologia ética que minimiza a hierarquia e maximiza a
diversidade, remete-nos, como veremos, a uma psicanálise promovedora de uma
transformação da subjetividade que ao se realizar trará como corolário uma mais
eqüitativa distribuição de benefícios e prejuizos.
É a vez de Flávio Souza dar
uma contribuição ao meu diálogo com a ecologia. Retirei o seguinte trecho do
artigo “Ecologia humana”[22]:
"A
palavra ecologia vem do grego e significa Eco = Habitat/
Lugar de vida/ Sistema de relação e Logia = Estudo/ Ciência, então
ecologia pode ser também definida como estudo de sistemas. Nós seres humanos
somos um sistema de órgãos e tecidos, um sistema de células, moléculas e
átomos, um sistema de pensamentos, de interação com o nosso mundo interno e
externo e dos relacionamentos com as outras pessoas. Então, podemos falar em ecologia
humana".
Esta é a
expressão que eu gostaria de usar: acrescentar o humano à ecologia para delimitar
o campo principal em que a ecologia ética será exercida. Não seria impróprio
falar de ecologia ética humana, embora se possa argumentar que toda
ética parte do homem. Parte do homem, sim, mas pode ser aplicado em diversos
campos. O campo privilegiado da psicanálise é a relação humana. Daí a minha
proposta de batizar a síntese de ética ecológica humana. Como
uma introdução a esta ética eu diria que o psicanalista pensaria uma ecologia
que permitisse uma evitação
do pior e uma busca do melhor coletivo. Desenvolvendo: o psicanalista pensaria
numa distribuição o mais possível eqüitativa de
prazer e desprazer, de mal-estar e bem-estar, de alegrias e sofrimentos entre
os membros de um grupo, seja um grupo de duas pessoas como no tratamento
psicanalítico individual ou de muitas pessoas como no tratamento de família. A
ecologia humana de nosso interesse envolve a totalidade das pessoas de um grupo
em interação consciente e inconsciente, com suas relações interpessoais e
intersubjetivas, seus dinamismos repetitivos, sua distribuição de poder e de
sintomas. A concentração de sintomas em uma ou poucas pessoas e a dominação e
colonização de muitos em relação a alguns ou de uma pessoa em relação a outra,
será considerada um problema psicológico e psicossocial a ser modificado para
que cada membro do grupo e o grupo como um todo possa ser mais espontâneo e
criativo.
Na
perspectiva ecológica a mínima modificação de uma subjetividade afeta as
subjetividades que fazem parte do conjunto ecológico, produzindo novos equilíbrios.
É o que ocorre no tratamento psicanalítico individual e de grupo onde o contato
com uma nova subjetividade que não se deixa absorver pela dinâmica vigente, trazendo
sua própria contribuição dinâmica na interação com o outro ou os outros, introduz
modificações nos dinamismos psíquicos[23].
Vista
a questão da nomeação da síntese (ética ecológica humana) posso agora me
dedicar a desenvolvê-la.
Como
já foi dito os conceitos winnicottianos serão usados para este desenvolvimento.
Para isto eu os separei em três grupos: 1- holding; 2- espaço potencial,
criatividade, área e objeto transicional; 3- identificação primária,
mutualidade, identificações cruzadas e
concern.
O
paradigma da noção de holding é uma mãe sustentando o bebê em seus braços e colo.
Uma mãe amorosa acolhedora, não ansiosa, transmitirá uma sensação de segurança,
de confiabilidade, de liberdade e de limite ao bebê. Tudo lhe é permitido no
espaço abarcado pelo corpo da mãe. Mas é um corpo que provê um limite. Paradoxalmente
o bebê se sente livre e protegido pelos limites que o colo e braços da mãe
proporcionam. Uma citação de Winnicott nos permitirá perceber o alcance e a
importância da noção de holding:
"É possível perceber aqui uma série ----- o corpo da
mãe, seus braços, o relacionamento dos pais, o lar, a família, incluindo primos
e parentes próximos, a escola, o bairro com sua delegacia, o país, suas leis"[25].
Esta seqüência nos dá uma
concepção de uma lei-holding que reúne limite e acolhimento, correção e suporte;
diferentemente da lei freudiana posta em prática através de uma intervenção impiedosa
da autoridade à qual ele chamou apropriadamente de “castração”. Vejamos isto em
duas citações de Freud:
"O superego reteve
características essenciais das pessoas introjetadas — a sua força, sua
severidade, a sua inclinação a supervisar e punir. Como já disse noutro
lugar, é facilmente concebível que, graças à desfusão de instinto que
ocorre juntamente com essa introdução no ego, a severidade fosse aumentada. O
superego — a consciência em ação no ego — pode então tornar-se dura, cruel e
inexorável contra o ego que está a seu cargo. O Imperativo Categórico de Kant
é, assim, o herdeiro direto do complexo de Édipo"[26].
"O
superego conservará o caráter do pai e quanto mais intenso foi o complexo de
Édipo e mais rápido se produziu sua repressão (sob a influência da autoridade,
do ensino religioso, da educação escolar, da leitura), tanto mais rigoroso virá
a ser o império do superego sobre o ego como consciência moral, talvez também
como sentimento inconsciente de culpa, sobre o ego[27]."
Esta concepção de superego
fez com que se confundissem a figura do Tirano, do Déspota, com a do Guia
(Guru, Mestre), e a necessidade de limites com a castração implacável e insensível.
A reação da sociedade a esta
confusão, a este excesso foi um outro excesso: o da permissividade total bem
expressa na frase de ordem “é proibido proibir”[28]. Esta
a 2ª fase, a antítese de nossa dialética. Entramos agora numa 3ª fase procurando
aberturas e é aí que contamos com a ajuda de Winnicott. O conceito de holding permite
uma convivência pacífica da limitação com a liberdade. Faz parte do holding
saber apresentar o mundo à criança de acordo com suas necessidades e
possibilidades. Isto é diferente da imposição de idéias de um regime patriarcal
autoritário. Permite que o ser humano sinta que a limitação necessária para a
vida em sociedade foi também uma criação sua. A limitação torna-se intrínseca
ao sujeito e a permissividade e transgressão ganham contornos adequados[29].
Distingue-se do resultado da ação de castração da 1ª fase de nossa dialética.
Naquela circunstância, tendo sido impedido o acesso da criança à mãe, ao
feminino, ela perde o contacto com sua sensibilidade, a sua vida afetiva e não
tem condições de exercer a intuição, a empatia, a identificação primária, etc. Transforma-se
então em Homem Objetivo, poderoso e forte em sua defesa da Lei, um Homem que
não aceita o mundo feminino da sensibilidade. Com a ação de holding Winnicott
reconecta o ser humano com o feminino possibilitando uma colocação sensível de
limites sem ter de obrigatoriamente realizar ações duras, implacáveis,
impiedosas, violentas. O limite deixa de ser um duro muro de pedra que
arrebenta a cabeça de quem o enfrenta e torna-se uma flexível, macia e
acolhedora cortina de veludo. Estaríamos então fora da repressão excessiva e da
permissividade desenfreada.
Espaço potencial[30],
criatividade, área e fenômeno transicional
O
espaço potencial surge quando o estado de fusão mãe-bebê se desfaz. Até então a
mãe não deixava nenhuma solução de continuidade entre a necessidade do bebê e seu
atendimento. Quando finalmente se estabelece mais claramente que as
necessidades do bebê serão postergadas e mesmo não atendidas, surge a ameaça
teórica de uma fenda que é a perda da continuidade da relação mãe-bebê. Na
saúde esta ameaça não se concretiza porque a díada inventa a mente e o fenômeno
transicional: a fenda virtual ganha então a qualidade de espaço potencial. Por
que espaço potencial? Antes do aparecimento deste espaço tudo o que surgia no
campo de psiquismo da criança era sua criação onipotente: a única criação que
lhe era possível, e, portanto, em termos sociais, uma não-criação. Com o
aparecimento do símbolo transicional a onipotência torna-se mitigada: existem
agora o eu e o não-eu que pode estar fora da área de onipotência do bebê. Este
não-eu generalizado traz a semente da objetividade, caminha em direção ao
objetivamente percebido. Porém, uma pessoa absolutamente objetiva não traria
nada de novo ao mundo, pois estaria aprisionada pelo já consensualmente
acordado. Uma pessoa absolutamente subjetiva também não influiria sobre o mundo
real. Os extremos subjetivo e objetivo não são socialmente criativos. A
criatividade acontece quando o subjetivamente concebido se entremeia com
objetivamente percebido. O subjetivo atua sobre o objetivo dando-lhe cores,
nuances, transformando-o; o objetivo atua sobre o subjetivo fornecendo-lhe
dados de realidade para a construção de limites.
A
potência criativa se encontra na fenda virtual que por isto mesmo recebe o nome
de espaço potencial. Estando a potência criativa no limite ou mesmo fora das
regras instituídas ela depende de um clima permissivo que propicie ultrapassar o
já estabelecido. Ao invés de uma permissividade descontrolada teremos uma
permissividade criativa que se exerce na área intermediária, transicional, área
de superposição do subjetivamente concebido com o objetivamente percebido.
À
palavra criatividade[31]
Winnicott dá uma conotação teórica muito particular que a afasta do sentido corriqueiro.
Podemos tomar como paradigma da criatividade winnicottiana um bebê com fome que necessita de um seio e
este seio aparece. O bebê criou um seio que já existia. Esta a fórmula geral da
criatividade para Winnicott: criar o que já existe. Difere do significado comum
que, como todos sabemos, é fazer algo novo. Isto não quer dizer que a
criatividade no sentido winnicottiano não possa também trazer algo novo. A
partir do paradigma exposto podemos dizer que a criatividade cria o que já
existe, dando vida ao existente ao disseminar sua subjetividade sobre a
objetividade fenomênica. Indo mais adiante, a subjetividade pode criar um
fenômeno já existente como virtual, ainda não concretamente presente. Criatividade
teria ao mesmo tempo uma conotação winnicottiana e comum. O sentido comum não é
importante para os meus propósitos. O relevante é a criação de um elo
intrínseco entre o ser humano e o mundo, vivificando-o, dando-lhe colorido; a
subjetividade lançada sobre o objeto ou fenômeno objetivo torna-o transicional.
Uma forte e intrínseca ligação se
estabelece entre o ser humano e o mundo, já que o mundo é criado e recriado
inúmeras vezes por ele. O mundo é parte da pessoa que o cria e o sujeito exerce
um cuidado com aquilo que está em processo de criação permanente, pertencendo
pois, ao seu campo narcísico. A permissividade exerce-se então
construtivamente, e não mais no excesso destrutivo da 2ª fase.
Identificação
primária, mutualidade, identificações cruzadas e “concern”.
Identificação primária - O bebê, ao nascer, deverá
encontrar uma mãe em estado de “preocupação materna primária”. Neste estado ela
é capaz de propiciar ao bebê uma fusão formando com ele uma unidade na qual um
não se distingue do outro. Citando Winnicott:
"Duas pessoas separadas podem sentir-se em união, mas aqui, nessa área que examino, o bebê e o
objeto são um. A expressão “identificação
primária” talvez tenha sido usada para designar exatamente isto que estou descrevendo,
e estou tentando demonstrar quão vitalmente importante é essa primeira
experiência para o início de todas as experiências subseqüentes de
identificação".[32]
Neste texto de 1966
Winnicott parece não querer se comprometer por inteiro com a expressão
“identificação primária” ao colocar a palavra “talvez”. No entanto já o havia
feito em 1960 quando fala de “O desenvolvimento do lactente durante a fase do holding: ...É neste estágio que processo
primário, identificação primária, auto-erotismo e narcisismo primário são
realidades vivas”[33].
Apesar da relutância de Winnicott resolvi colocá-la em
circulação não apenas porque ela é amplamente usada pelos psicanalistas, mas
principalmente por me parecer mais apropriada ao que aqui desejo transmitir:
estou tentando encontrar em cada camada de desenvolvimento, a possível ética
implicada. Nesta fase inicial da vida humana a detentora da ética é aquela mãe
capaz de viver uma “preocupação materna primária”. É neste estado que acontece
a identificação primária, a fusão mãe-bebê. Se olho de fora, vejo duas pessoas
e posso então posso dizer que a preservação e o bem-estar de si-mesmo e do
outro estão contemplados. Estamos na camada do Ser, do aspecto feminino puro[34],
que persistirá no desenvolvimento subseqüente do ser humano como sensação
implícita, de alguma maneira influindo na constituição da ética pessoal. Podemos
colocá-la na categoria de ética espontânea e dar-lhe o nome de ética da
identificação primária.
O paradigma da mutualidade[35] encontra-se na relação da mãe com um
bebê de aproximadamente doze semanas que, ao ser amamentado, brinca de
amamentar a mãe colocando um dedo na sua boca. Estabelece-se uma situação de
amamentação mútua. De um lado o leite do seio/dedo da mãe e do outro o leite do
dedo/seio do bebê; já não estamos no espaço de fusão mas sim no espaço
potencial, espaço do brincar. Isto se passa dentro de um intenso clima afetivo
de uma identificação onde tanto a mãe e o bebê (m)amam e são (m)amados. Repito:
trata-se de uma identificação na dependência relativa, uma identificação
secundária, pois já existe a separação eu/não-eu. É uma separação relativa uma
vez que mãe e filho estão ligados por processos de identificação projetiva e
introjetiva, portanto no nível de relação de objeto. O eu se distingue do
não-eu, porém o não-eu não é conhecido em sua singularidade, sendo principalmente
um receptáculo não-eu de fantasias ainda em trânsito para a percepção objetiva.
Os intensos processos de identificação projetiva e introjetiva incluem o eu e o
outro em uma unidade maior que Mahler[36]
chama de simbiótica. Eu e não-eu estão separados no interior de uma fronteira
comum que os engloba. Essa unidade faz com que o cuidado do outro seja também o
cuidado de si e vice-versa. Podemos então falar de uma ética espontânea em um
nível diferente da anterior e à qual se poderia dar o nome de ética da
mutualidade.
O
adulto maduro que viveu a mutualidade[37] e
que teve a oportunidade de internalizar limitações sem passar pelo trauma da
castração conserva a capacidade para experiências de mutualidade; agora o que
se troca não é mais a amamentação e leite real/imaginário, mas afetos e
fantasias que livremente circulam entre dois seres em relação íntima e sem
barreiras. Temos aqui um adulto capaz de identificação dual-porosa[38]:
uma pessoa singular, autônoma e raciocinante (com a Mente desenvolvida) apta a
abrir seus poros psicossomáticos para trocar fantasias e afetos com as subjetividades
individuais e sociais. Uma identificação e ética espontâneas em um adulto
desenvolvido, capaz de um pensamento lógico, portanto capaz também de uma ética
da responsabilidade. Dois planos de desenvolvimento. Lembro que estamos, no
momento, no plano da ética espontânea. Chamaríamos a esta ética espontânea de
dual-porosa[39].
Após
este desvio/adiantamento, retornemos à seqüência que se interrompeu na ética da
mutualidade.
Identificações cruzadas[40]:
Começarei por uma frase de Winnicott:
"A sobrevivência do analista à destrutividade que é
própria desta mudança, e a ela se segue, permite que aconteça algo de novo, que
é o uso, pelo paciente, do analista,
e o início de um novo relacionamento baseado em identificações cruzadas. O
paciente pode agora começar a colocar-se imaginativamente [sublinhado meu] no lugar do analista, e
(ao mesmo tempo) é possível e bom para este colocar-se no lugar do paciente, a
partir de certa posição, isto é, ter os próprios pés no chão"[41].
Este fragmento permite-me
dizer que as identificações cruzadas ocorrem no estágio de uso do objeto,
quando o analista já pode ser visto em sua realidade humana, com seus defeitos
e virtudes. Posso também dizer que as identificações cruzadas estão no ápice do
processo evolutivo das identificações projetivas e introjetivas. É aqui que se
introduz uma ambigüidade que certamente tem a ver com o estilo de Winnicott (que
é deixar questões em aberto para a produção criativa do leitor). Tanto posso
pensar em identificações cruzadas como as próprias identificações projetivas e
introjetivas usadas agora de forma saudável ou pensar que as identificações
cruzadas representam uma nova forma de se relacionar diferente das
identificações projetivas e introjetivas; este último pensamento vem da
expressão “colocar-se imaginativamente no lugar do analista” que poderia nos
fazer pensar na existência de um tipo de identificação diferente da projetiva e
introjetiva e que seria uma identificação imaginativa, um colocar-se
propositalmente “nos sapatos do outro”. De
qualquer forma está em curso uma desidealização que dará acesso a outro nível
de conhecimento, relação e (introduzo agora o conceito) ética. Tenho para mim
que a ética das identificações é uma ética espontânea. Seria bem menos
espontânea se abraçássemos a idéia de uma identificação imaginativa
qualitativamente diferente da identificação projetiva e introjetiva. Nós nos depararíamos então com um esforço para
se identificar, o que já introduziria uma intervenção do raciocínio, da mente. Porém
a partir do momento em que esse esforço fosse bem sucedido estaríamos, talvez, de
volta à espontaneidade.
“Concern”[N1][42] –
ao fim e ao cabo concern significa zelo e preocupação com o bem-estar de
outrem. Ele surge a partir da própria evolução maturacional do ser humano.
Representa a fase terminal de um processo que começa por vivenciar como duas
pessoas diferentes a mesma mãe: uma é vivenciada como mãe-ambiente e a outra
como mãe-objeto. Enquanto perdura esta dualidade o ataque à mãe objeto não traz
nenhuma conseqüência para a relação com a mãe ambiente. Quando o infante integra
as duas mães em uma só aparece o concern, a preocupação de estar destruindo a
mãe unificada ao atacá-la. A criança se torna zelosa desta mãe. Aqui ainda
funcionam as identificações projetivas e introjetivas que são movimentos do
psíquico, mas também já podemos falar de um movimento mental que procura uma
identificação imaginativa com a mãe. Estamos agora próximos da ética da
responsabilidade que em parte se confunde e em parte ultrapassa a ética do
concern.
A ética fusional, a narcísica (mutualidade e identificações
cruzadas) e a do concern surgem espontaneamente no desenvolvimento do ser
humano. A elas eu acrescentaria, como ainda espontânea, a ética da
identificação dual-porosa que depende da conservação da porosidade primeva,
permitindo que dois sujeitos autônomos se unam por trocas afetivas e por
dinamismos psíquicos, um processo do psiquessoma que não depende da intervenção
da Mente. Esta sim (a mente), é necessária na ética da responsabilidade,
uma ética da evolução espiritual da civilização.
É
importante evitar o desgaste das éticas espontâneas. Precisamos escapar dos
convencionalismos que matam a criatividade, precisamos manter a porosidade
interna e externa para que não se percam o contacto com o feminino que existe
dentro de nós e o contacto com a subjetividade em devir da sociedade.
Pude chegar até este ponto do estudo dialético a que me propus.
Temos agora mais uma utopia em nosso horizonte que tanto concerne à clínica
quanto ao social. Uma utopia que privilegia o acolhimento, a colocação delicada
e sensível de limites, a compreensão da subjetividade alheia e da própria, o
comprometimento com uma ecologia humana ética. O consultório pode tornar-se um
lócus de resistência ao massacre da sociedade hipercapitalista com suas dissimuladas
mas hábeis e eficientes imposições e um fulcro para a transformação da
subjetividade pessoal e social.
Nahman Armony –
18/06/09
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Nahman Armony
Junho/2009.
[4] O Novo
Clube de Paris formado por pessoas das mais diversas atividades – matemáticos,
ministros, presidentes de Bancos, etc. – está preocupado com os rumos tomados
pela hipermodernidade (ou modernidade líquida) acreditando que estamos chegando
a um limite muito perigoso.
[6] BAUMAN,
Z. Revista do Globo. Jornal O Globo de 25/04/09 – Entrevista.
[11]
SIBILIA,P. “A vida como relato na era
do fast-forward e do real time: algumas reflexões sobre o
fenômeno dos blogs”. Em questão. Porto Alegre, v.11, p. 35-51, jan./jun.
2005.
[12] Caetano
Veloso, 1968.
[14] BEEBE, B. et al. Forms of intersubjectivity in infant researcha and adult
treatment. New York: Other Press, 2005.
[15]
“O que realmente conta é apenas a volatilidade, a temporalidade interna de
todos os compromissos; isso conta mais que o próprio compromisso, que de
qualquer forma não se permite ultrapassar o tempo necessário para o consumo do
objeto do desejo (ou melhor o tempo suficiente para desaparecer a conveniência
desse objeto” in Bauman, Z. Globalização,
as conseqüências humanas (p. 89). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
[16] “Na
sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar
mercadoria...”(p.20) in Bauman, Z. Vida
para consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
[17] FREUD,
Sigmund. Análise terminável e
interminável Rio de Janeiro: Imago, 1975. p. 259/260. (Edição Standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 23) (Artigo
original pulicado em 1937).
[18] Site:
ivairr.sites.uol.com.br/ecologia.html.
[19] ivairr.sites.uol.com.br/ecologia.html.
[23] Ver
ARMONY, N. Dinamismos em psicanálise. In: Psicanálise:
da interpretação à vivência compartilhada. Rio de Janeiro: Editora
Universitária Santa Úrsula, 1989. p.91-100.
[25]
WINNICOTT, D.W. (2000) A tendência anti-social. In: Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1956. p.406-416.
[26] FREUD,
S. (1924) O problema econômico do
masoquismo. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p.208-209. (Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud.)
[27] FREUD,
S. (1923) O ego e o id. Rio de
Janeiro: Imago, 1976. p.49. (Edição standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud).
[28] CAETANO
VELOSO, 1968.
[29] ARMONY,
N. Do universal/particular ao local/global: o superego sob nova ótica. In: Winnicott, seminários cariocas. Rio de
Janeiro: Revinter, 2008. p. 111-127.
[30] ABRAM,
J. O espaço potencial e a separação. In: A
linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter, 2000 p. 263-265.
[32]
WINNICOTT, D.W. (1966) Sobre os elementos masculinos e femininos ex-cindidos.
In: Explorações psicanalíticas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994 p.140.
[33] IDEM
(1960) Teoria do relacionamento paterno-infantil. In: O ambiente e os processos de maturação .Porto Alegre: Artes
Médicas, 1982 p. 44.
[34]
WINNICOTT, D.W. (1966) Elementos masculinos e femininos puros. In: Explorações psicanalíticas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1982 p.139-141.
[35]
WINNICOTT, D.W. (1969) A experiência mãe-bebê de mutualidade. In: Explorações psicanalíticas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994 p. 195-202.
[37]
WINNICOTT, D.W. (1969) A experiência mãe-bebê de mutualidade. In: Explorações psicanalíticas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994 p. 195-202.
[38] ARMONY,
N. Formando e localizando o conceito de identificação dual-porosa. In: Borderline: uma outra normalidade. Rio
de Janeiro: Revinter, 1998 p.63-72.
[39] Ver
ARMONY, N. Ética e subjetividade nos borderlines próximos da normalidade. In: Psicanálise: uma prática teorizada. Rio
de Janeiro: Cia. de Freud, 2007 p.163-169.
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instintual e em função de identificações cruzadas. In: O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975 p. 176-186.
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