APROXIMAÇÕES E AFASTAMENTOS DE CASAL


                                                               Nahman Armony

        Passado o período de apaixonamento, época em que o casal não consegue se desgrudar, cada um dos parceiros começa a recuperar a sua individualidade e a exercer a sua independência. Este processo é impulsionado pelas renúncias feitas dos próprios gostos e opiniões, ao procurarem o entendimento perfeito. É uma situação com tempo de validade limitada, pois o senso de identidade, tão necessário para a autoestima e para uma ação produtiva no mundo, vai sendo corroído pelas abdicações de personalidade. Em algum momento torna-se premente a recuperação do senso de identidade. Não é impossível readquiri-la mantendo a atmosfera de encantamento e paixão. Mas a recuperação de si mesmo exige pelo menos pequenos afastamentos. Afastamentos estes que também têm a ver com os inevitáveis momentos de frustração inconsciente quando a atenção não se dirige integralmente ao parceiro. Isto pode ser mais bem compreendido quando equiparamos o estado de paixão aos sentimentos do bebê que é muito sensível aos movimentos de aproximação e afastamento da mãe. Na paixão há uma certa qualidade de regressão que a aproxima destes primeiros tempos. As frustrações e a necessidade de obter (se falamos de bebês) ou de preservar (se falamos de adultos) um sentimento de identidade provocam afastamentos enquanto o enamoramento e o amor promovem aproximações. Essa dinâmica se complica, pois o afastamento se for sentido como rejeição provocará no parceiro uma resposta também de afastamento. Tudo isto é passível de acontecer no sentimento e ação sem que o casal tome conhecimento dos motivos destes eventos. Finalmente partindo de um ou de outro o amor prevalece e há uma reaproximação. Esta dinâmica repete-se inúmeras vezes, mas a cada vez, na melhor das hipóteses, de forma mais suave e suportável. A isso chamamos de amadurecimento da relação quando os sentimentos primitivos mobilizados pela paixão, ao se depararem com a realidade do outro e do dia-a-dia, sofrem modificações de forma a tornar suportáveis e posteriormente naturais as relativas desatenções de um para com o outro. Por outro lado, no que diz respeito à preservação da personalidade, o casal aprende a manter suas características sem perder o encantamento, aceitando progressivamente modificar algumas; sem que nenhum dos dois se dê conta, alguma coisa de um passa integrar o ser do outro não havendo o sentimento de perda de personalidade nem o de invasão por seres estranhos. Tudo isto se passa num plano inconsciente e o equilíbrio poderá ser alcançado ainda neste plano. Concomitantemente, mas dependendo do sucesso progressivo do equilíbrio inconsciente, o casal poderá aprender a negociar, agora em um plano consciente, as suas diferenças. Mas também poderá acontecer do casal, por não ter conhecimento dos motivos das aproximações e afastamentos, assustar-se achando que o amor está terminando, que está havendo desconsiderações. Poderão então aparecer reações drásticas que cheguem mesmo a inviabilizar a continuidade da relação. Portanto o conhecimento dos motivos que provocam aqueles sentimentos e ações inclusive o conhecimento de que tal sequência faz parte da própria dinâmica evolutiva da relação poderá evitar perdas irreparáveis. 

"Primeira publicação na revista CARAS"

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