DESABAFO (do livro "O Anverso e o Verso)

Martela, martelo, o prego
Num contínuo ritmar
Bate forte, duro e cego
É preciso não parar.

Martela, martelo, a tela
Desta vida a desfilar
Martelando se consegue
Ver a vida não passar.

Martela, cabeça, a prece
Enche de som este ar
Que o vazio então parece
Que se esquece de se achar.

Martela, cabeça, o mundo
Pro mundo não martelar
Na cabeça a dor é funda
Deixa a alma empedrar

Martela o Universo todo
Cabeça, mundo e luar
Pois vêm do mesmo lodo
E lá irão se juntar.

Martela, martelando
Assim se vai ficando
Sem direito de parar
Sem poder se perscrutar
Sem a fome de amar
A vida é só martelar
Martelar sem parar.

Martela, martelo, a dor
Martela, martelo, a alma
Martela, martelo, o amor
Martela, martelo, a fome
Martela, martelo, a carne
Martela, martelo, o mundo
Martela, martela, martela,
Enche de som este ar
Martela com fome e dor
Não para de martelar
Até que a unha do Homem
Penetre em carne e sangue
No centro da alma do Mundo
No torvelinho do Tudo,

Quem sabe então descansar?

                Nahman Armony

 

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