"FICAR" OU NAMORAR

Por ter tendência ao apego, gostar mais de segurança do que de aventura ou por influência dos pais, alguns adolescentes preferem o namoro aos relacionamentos fugazes, tão em voga atualmente. O único problema dessa opção é que se sintam inferiorizados no seu grupo etário. Aos pais, cabe oferecer apoio em caso de ansiedade pela situação, mas sem interferir na autonomia dos filhos.


Puberdade e adolescência constituem um período de transição, quando a criança se desprende dos pais em favor de grupos de sua faixa etária. A opinião do grupo torna-se cada vez mais significativa, empurrando para a periferia a importância da aprovação dos pais, embora estes,  no inconsciente do adolescente, continuem a ser o esteio de segurança. Mas a ideologia do grupo exerce poderosa pressão sobre o jovem. Uma ideologia corrente atual é a do “ficar”, que significa encontros sem compromisso, nos quais se pode desde beijar, acariciar até transar. O “ficar” é um valor positivo nos grupos adolescentes. Como ninguém quer estar out, este valor procura ser exercido pelos jovens. Há, porém, aqueles que não se sentem bem com tal prática. São vários os fatores que levam os jovens a gostar ou não do “ficar”. Darwinianamente falando, como as mulheres produzem relativamente poucos óvulos na vida fértil, precisam escolher o parceiro sexual mais perfeito possível. Então elas realizam uma seleção cuidadosa, não se deixando fecundar por qualquer um. Já o homem, cujos órgãos sexuais produzem milhares de espermatozóides, busca garantir a transmissão e a sobrevivência de seus genes procurando fecundar o maior número de fêmeas possível. É claro que nós, humanos, estamos muito longe desse nível biológico. Mas quando se faz um levantamento mais global, é mais um fator a ser levado em consideração.
O psicanalista húngaro Michael Balint (1896-1970) diz que muito cedo se desenvolvem no ser humano tendências para o apego ou desapego ao objeto de amor. Poderíamos dizer que no “ficar” predomina o desapego e no namorar predomina o apego. Teríamos, portanto, dois tipos de pessoas: um com medo de intimidade, precisando passar de parceiro para parceiro, e outro com medo da novidade, da aventura, precisando se fixar em algo conhecido. Essas duas tendências existem conjuntamente em proporções diferentes em todas as pessoas. Mas em algumas a predominância de uma é tão poderosa que a outra renuncia à sua expressão.
Outro fator é a ideologia dos pais. Embora, como já disse, num certo período da vida o jovem a abandone para adotar a ideologia do grupo, na verdade o abandono total é uma impossibilidade, pois a influência dos pais penetra profundamente na psique dos filhos. Ela pode, sim, diluir-se quando outros fatores entram em jogo, mas sempre estará de alguma maneira presente: mais em alguns, menos em outros. Assim, se a mentalidade da família for fortemente conservadora, o jovem ou terá mais dificuldades com comportamentos liberados ou os realizará de forma exagerada, como uma reação à poderosa proibição interna que carrega. Faz parte também do equipamento pessoal a curiosidade pelo novo, pelo perigo e o gosto pela segurança, pelo conhecido, pela tranqüilidade.
Portanto muitos são os fatores envolvidos e sua resultante dependerá do jogo de forças entre eles. Poderá acontecer de o jovem se ver impulsionado a adotar um comportamento diferente do dos amigos, o que o fará sentir-se excluído, inferiorizado, incapaz de acompanhar seu grupo etário. Nesse momento os pais, valendo-se da profunda vinculação filial, podem se apresentar para auxiliá-los em sua aflição. Deverão, porém, ser uma presença discreta, pois os filhos, mesmo que necessitem de reconhecimento e apoio para o comportamento divergente de seu grupo etário, mantêm o desejo de independência em relação aos pais. O apoio e a aceitação deverão ser oferecidos com sensibilidade e cuidado para que o jovem não sinta que estão querendo lhe retirar a autonomia e a independência.
                                                                                  
                                                                                        Nahman Armony      
Primeira publicação na revista CARAS. 

                                                

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