DILEMAS AMOROSOS

                           

         Alguns rapazes (ou moças) no final da adolescência ou inicio da idade adulta abrem um espaço para a entrada de uma namorada ou namorado. É a transição do mundo pós-infantil para o mundo pré-adulto. Durante a infância e a puberdade tinham o apoio dos pais. Chegada a idade de se lançar em vôo solo sentem falta da efetiva e virtual presença protetora dos genitores. Esse espaço desocupado que o processo de maturação cria faz com que o jovem busque um complemento que de alguma maneira faça com que se sinta abrigado. Quanto mais próximo este complemento estiver da experiência de intimidade tida mais especialmente com a mãe, mais seguro o nosso herói se sentirá. Assim, a busca de um namorado ou namorada com quem ele trocará intimidades físicas e psíquicas está alicerçada na lembrança da relação afetiva e corporal mais primitiva com a mãe que vem acompanhada da sensação do “dois em um”, uma sensação extremamente prazerosa e tranqüilizadora. É por isso que não basta um amigo para preencher o espaço deixado pelo afastamento dos pais. Falta ao amigo a relação física que eleva à potência máxima possível os afetos de proteção, confiança e segurança.  Sendo assim, não é difícil que o jovem adulto se ligue amorosamente a uma pessoa com a qual tem afinidades várias, mesmo que não esteja presente a atração física e psíquica ligada a fatores mais viscerais, talvez hormonais, genéticos e outros misteriosos a que popularmente chamamos de “ter uma química com...”.  Um dilema afetivo e ético surge quando, em meio a um namoro que está indo bem por conta das afinidades intelectuais, culturais e afetivas, aparece um terceiro que logo se apossa do corpo e da psique de um dos namorados. É a flechada de Cupido, um deus implacável que não respeita desejos conscientes. O namorado ama a namorada, mas sente uma atração irresistível pela nova pessoa que aparece em sua vida. É uma atração tão intensa que provoca uma cegueira ética impelindo-o para um relacionamento amoroso clandestino. Ele então se sente culpado e procura negar a força da nova relação reafirmando seu amor incondicional e infinito pela namorada. Mas, aos poucos, vai percebendo a intensidade inusitada que sente por essa nova pessoa e acaba caindo em um dilema: com quem ficar? Com a primeira se sente comprometido pelas promessas já feitas, próprias e inevitáveis das relações amorosas. Por essa culpa e em nome da ética ele poderá, com muita dor, renunciar ao novo amor e aprisionar-se em um casamento que poderá até ser feliz, mas que presumivelmente não terá a alegria e a vitalidade que haveria na outra relação. O outro fator que o faz escolher a primeira namorada é a segurança que ela lhe oferece pelo tempo de convivência, pelos planos para o futuro a dois e pelas reafirmações de um amor verdadeiro que se pretende indestrutível. Será uma escolha acompanhada de um terrível sentimento de perda de algo muito precioso, que o fará sofrer. Mas se a escolha for pela segunda ---  e nisso há um gesto arriscado pois é uma relação que diferentemente da primeira não se consolidou e por isso mesmo incerta --- haverá também um enorme sofrimento causado pela perda de uma relação boa, carinhosa e confiável que a namorada mais antiga lhe proporcionava. Ele se sentirá um canalha e terrivelmente culpado. Estamos aqui diante de um dilema difícil de resolver. Será a dinâmica desta relação a três que determinará a eleita. Quando falo de dinâmica penso nas diferentes reações possíveis de cada um dos componentes do trio em suas interações. Então não há outra coisa a fazer que esperar que a situação se desenvolva até que ela por seu movimento próprio venha a apresentar uma solução que evidentemente não será inteiramente satisfatória.    

                                                      Nahman Armony
Primeira publicação na revista CARAS



Nenhum comentário:

Postar um comentário