RECALQUE E DISSOCIAÇÃO



Quero fazer algumas distinções simples que poderiam ser chamadas de fenomenológicas, pois não são metapsicológicas nem se preocupam em fazer articulação com conceitos. Pretendem ser observações soltas transmitidas na linguagem disponível. As articulações existentes são espontâneas não representando um esforço do escritor.
RECALQUE – a complexidade recalcada fica fora do alcance da consciência e apresenta resistências quanto a ser percebida por ela. No seu retorno à consciência aparece disfarçada, por vezes quase irreconhecível ou mesmo irreconhecível. O recalque mantém a unidade da personalidade. O desejo (ou o trauma) ao ser recalcado não mais exerce pressão consciente para a sua satisfação, o que mantém a unidade do Eu. Se alguém deseja duas coisas incompatíveis e uma delas é recalcada tornando-se inconsciente, ela reaparecerá em forma de sintoma. A unidade do Eu se mantém.
DISSOCIAÇÃO- a dissociação evita o conflito. Duas formas de dissociação: DISSOCIAÇÃO COM CONSCIÊNCIA DAS PARTES DISSOCIADAS: a pessoa quer duas ou mais coisas incompatíveis e se não recalca uma delas pode sentir-se confusa ou então pode aceitar o paradoxo de querer, num mesmo momento, coisas incompatíveis.
DISSOCIAÇÃO SEM CONSCIÊNCIA DAS PARTES DISSOCIADAS: a pessoa pula de um desejo para outro. Mas geralmente o desejo está inserido numa personalidade e então entra em cena uma segunda personalidade que cumpre o desejo. É o caso das chamadas dissociações histéricas em que uma personalidade não tem conhecimento da outra ou em que umas das personalidades não tem consciência enquanto a outra tem. É o caso de M. que apresenta uma personalidade militar em certas situações e uma personalidade psicanalítica em outras situações. Não é uma dissociação como a estou descrevendo aqui, pois há um conflito inconsciente entre estas duas personalidades. Ele tem consciência da personalidade que aceita o homossexualismo e quando é esta personalidade que atua aparece o conflito pois ele não permite que o desejo e a personalidade recalcados --- aquela que tem horror ao homossexualismo ---  se tornem conscientes. (Uma mistura de recalque e dissociação?). Quando a personalidade é a psicanalítica o preconceito é negado não permitindo a tomada de consciência dos motivos de repúdio do homossexualismo o que acarreta que o homossexualismo do filho cause sofrimento (sintomas psicossomáticos e ansiedades e depressões aparentemente sem causa) influindo nas suas ações.   
                                                   Nahman Armony


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