O
borderline brando tem a capacidade de realizar identificações dual-porosas, as
quais lhe permitem penetrar na subjetividade do outro, compreendendo-o e dando
oportunidade ou para ajudá-lo ou para manipulá-lo em seu próprio benefício.
Situo
a origem do modo borderline de viver na fase de transição entre a dependência
absoluta e a dependência relativa, portanto na fase do aparecimento do espaço
potencial e do objeto transicional, que teria sido mal vivida por ele. Há
defeitos na formação e utilização do objeto transicional, aquele objeto que
facilita suportar a separação mãe-filho e que permite o acesso do bebê a um
mundo fora da mãe. Este ser humano que viveu imperfeitamente essa fase de
transição ficará intensamente apegado a figuras humanas significativas já que
não pôde criar adequadamente o objeto transicional substituto. Não é que ele
não tenha chegado à fase de dependência relativa com a diferenciação eu/não-eu
mas ele o fez mantendo uma necessidade de proximidade com a mãe. Ela é vista
como não-eu, sim, mas, além de preencher um espaço necessário ao
desenvolvimento do bebê, ocupa também o lugar onde deveria estar o objeto e
espaço transicional que daria acesso ao terreno da cultura, proporcionando uma
satisfação para além das relações amorosas.
Este
bebê, tendo vivido satisfatoriamente a fase de dependência absoluta, desenvolve
a capacidade de identificação dual-porosa, que mais se exacerba pela presença
exagerada da mãe, mal atenuada por relações com objetos transicionais.
Se
esta mãe, agora, no período de dependência relativa é sentida como abandonante
o pequeno ser humano em crescimento poderá apresentar a tendência anti-social.
Temos então a seguinte situação: capacidade de empatia e identificação
dual-porosa plus tendência anti-social. A capacidade de identificação
dual-porosa se mantém na evolução da tendência antissocial para a delinqüência
e a psicopatia. Essa construção teórica daria conta da capacidade de
envolvimento da sensibilidade e percepção do psicopata que sabe como conseguir
tirar proveito das pessoas, insinuando-se simpaticamente, mostrando uma
compreensão da subjetividade do outro, conquistando este outro e então se
aproveitando dele para seu próprio benefício. Temos aí um borderline do MAL. Outros
borderlines usam sua capacidade de empatia e de identificação porosa para
estabelecer relações de intimidade altamente gratificantes para os
participantes.
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