Tenho frequentemente me deparado com a
seguinte configuração: um rapaz e uma moça sentem-se mutuamente atraídos e
começam a se encontrar. Desde o início afirmam que querem uma relação “aberta”
em que ambos seriam independentes, tendo a liberdade de estar juntos ou
separados de acordo com o desejo e a vontade de cada um. Quando os encontros
são crescentemente agradáveis e estimulantes cria-se um laço cada vez mais
forte e o desejo que predomina é ficarem juntos a maior parte do tempo.
Desenvolve-se uma intensa paixão sexual que funciona como imã de grande força
atrativa. Finalmente a situação de fato é o casal namorando, com todas as significações
dessa palavra, inclusive o desenvolvimento de um sentimento suave de
propriedade negado por ambos, pois eles se consideram pessoas livres que não
querem se amarrar. Estão de fato namorando, mas não querem usar a palavra, pois
ela implica em compromisso. Porém o sentimento de propriedade próprio da
situação de namoro acaba por se revelar através de atos falhos, provocando
conflito e ansiedade mais frequentes e fortes no rapaz que luta contra seu
próprio desejo de segurança.
De uma maneira geral
os jovens estão pululando de desejos múltiplos, contraditórios, paradoxais.
Desejam ao mesmo tempo aventura e segurança. A nomeação de uma relação amorosa
como “namoro” está na direção da segurança e provoca o receio de “ficar
amarrado”. A não nomeação da relação amorosa dá um maior sentimento de
liberdade, mas provoca insegurança quanto à continuidade da relação. Mais
rapidamente o sexo feminino opta pela segurança, alegrando-se com a formalização
da relação, pois com ela conquistam um maior sentimento de estabilidade enquanto
os rapazes resistem denodadamente ao seu próprio desejo de estabilidade assustando-se
com qualquer coisa que cheire a compromisso, a possessão. Apegam-se ao desejo de liberdade negando
vigorosamente o desejo de segurança. Esta é uma situação que encontramos ao
longo da História. O Homem com tendências mais poligâmicas que monogâmicas e a
Mulher mais monogâmicas que poligâmicas. No século 19 e em grande parte do
século 19 e 20 o homem desfrutava tanto da segurança através do casamento com
uma mulher “do lar” submissa, quanto da aventura nos discretos encontros com
amantes e “damas da noite”. A mulher, mesmo sofrendo com essa situação se
calava, pois dependia do casamento para a sua sobrevivência física e social.
Com a independentização da mulher essa situação mudou. Sua situação econômica e
seu status social igualam-na ao homem dando-lhe poder e voz na relação amorosa.
Mas permanece uma diferença atávica entre os sexos masculino e feminino que vai
para além das convenções sociais. Desenvolvendo: inicialmente o desejo de
liberdade predomina nos jovens de ambos os sexos estabelecendo-se relações
livres de qualquer compromisso. O desejo de estabilidade surge após algum tempo
de relação trazido com mais força pela mulher, o que cria conflitos, pois o
homem apega-se por mais tempo ao polo da liberdade/aventura só mais tarde se
dobrando ao desejo de estabilidade. Mas trata-se de uma questão de tempo para
que os desejos convirjam em direção à segurança. Se não houver nenhum acidente
de caminho as relações caminharão para a formação de pares amorosos designadamente
comprometidos e gentilmente, disfarçadamente, e pelo menos levemente
possessivos.
Nahman
Armony
Primeira publicação na
Revista CARAS.
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