DE GÓRGIAS A FEDRO: UMA REAVALIAÇÃO DA RETÓRICA

O que me animou a postar este texto sobre Platão/Sócrates, escrito no final do século passado foi sua incrível atualidade. Nestes tempos de corrupção e anticorrupção a relação entre dialética e antidialética avulta como uma possibilidade de não nos perdermos no labirinto das palavras.


A intolerância juvenil de Platão, expressa em Górgias numa crítica acerba e implacável à retórica, amacia-se com a experiência e maturidade e, em Fedro, transmuta-se numa qualificada aceitação da retórica, e mesmo, em sua incorporação à filosofia.

Mesmo em Górgias, onde gritantemente predomina o modo raciocinante de diálogo, aqui e ali surgem laivos de um procedimento que foge ao domínio da demonstração dialética. Mas, antes de prosseguir, sigamos as recomendações de Sócrates como elas aparecem em Górgias e em Fedro. O primeiro dos diálogos citados fala-nos da necessidade de definir as palavras para que não se percam no labirinto das várias significações e, em Fedro, alerta-nos da impropriedade de se iniciar um discurso sem antes definir seu objeto. Vejamos, pois, como Sócrates/Platão define retórica, advertindo, desde já, da existência de um deslizamento de significados na medida em que os diálogos se desenvolvem; um deslizamento que resulta num tangenciamento, e mesmo, numa interpenetração com outras palavras, que por sua vez, apresentam a mesma complexa malha de significados. Mas, como, para pensar, precisamos (pelo menos, nós ocidentais), de balizamentos firmes, sigamos o procedimento socrático/platônico do qual, somos herdeiros e inconscientes (hoje já nem tão inconscientes assim) depositários.

Tentando uma síntese intuitiva, não elaborada, imediata, eu diria que a retórica se define, em sua essência, como o discurso que busca persuadir, convencendo o opositor daquilo que interessa ao discursador, à revelia de sua veracidade, à diferença da filosofia, cuja conversação ou discurso dialético busca alcançar verdades universais, sem se deixar influenciar por interesses ou situações particulares. Mas esta definição é apenas um ponto de partida.

Em Górgias a retórica está recortada quase sempre em contraponto à dialética e à filosofia. Sócrates realiza um entrecruzamento entre dialética e retórica, saber e crença. A crença poderá ser falsa ou verdadeira, enquanto que o saber será sempre verdadeiro. A retórica não está interessada em alcançar a verdade como o está a dialética, mas sim, em vencer uma discussão, em produzir uma crença, em fazer prevalecer a opinião pessoal. A filosofia não tem opiniões pessoais. O que ela busca é uma verdade para todos, uma verdade impessoal, a verdade do próprio discurso dialético que por isto mesmo deve ser reconhecido por todos os homens, independentemente daquele que fala, portanto não pela força da autoridade, mas por se tratar de uma verdade universal, uma verdade ontológica, uma verdade imanente ao próprio discurso, à própria dialética. Diz Sócrates para Polo em 475de: "No temas responder, amigo mío; no sufrirás ningún daño. Ponte sin miedo en manos del discurso, cual si de un médico se tratara, y responde, sea afirmativa, sea negativamente, a lo que te pergunto".

Sócrates considera a retórica não uma arte, como o é a dialética, mas uma prática destinada a produzir agrado e prazer, uma prática de adulação e lisonja, uma prática cujo discurso deriva ao sabor da reação dos ouvintes e não uma arte que tem como modelo a verdade dos deuses.

Até o momento a retórica está sendo considerada, digamos assim, em si mesma, separada de outros aspectos da vida. Mas isto logo mudará. Sócrates relacionará a questão da retórica à da justiça como verdade e, mais adiante, à conduta. Temos então a retórica embrenhando-se pelos caminhos da ética e da moral e para lá nos conduzindo. No início do diálogo Górgias mantém a retórica separada da ética e da moral, mas premido por Sócrates, concorda que não é possível ao retórico desconhecer a justiça. Está introduzida a questão ética da qual Sócrates retirará conseqüências morais. A ética está por sua vez ligada às questões da verdade. Nos diálogos seguintes - com Polo e Cálicles- as relações entre retórica, filosofia, ética, moral emaranham-se e encadeiam-se cada vez mais, tornando-se progressivamente mais difícil desentranhar retórica e filosofia de ética e moral.

No diálogo com Polo, Sócrates qualifica a dialética de arte e a retórica de prática; prática destinada a produzir agrado e prazer, prática de adulação e lisonja, prática que visa ao mais agradável e não ao melhor; por isso mesmo, Sócrates a denomina de feia(463d, 464de/465). E para poder viver de acordo com o melhor, escusando-se de ser guiado pelo mais prazeroso é preciso que a alma domine o corpo. A questão da injustiça é também dialetizada com Polo. Melhor sofrer injustiça que praticá-la, prova Sócrates à sua maneira raciocinante/dialética. Estamos aqui em pleno campo da conduta moral. “... o maior dos males vem a ser praticar uma injustiça” (469d). A punição é um bem para aquele que agiu mal. "No meu entender, Polo, o criminoso e o iníquo são de todo e em todo infelizes; mais infeliz, porém, é o criminoso que não expia a falta e não é punido; menos infeliz, se expiar a falta e for punido pelos deuses e pelos homens” (472e).

Cálicles intervém para fazer a apologia do forte, aquele que estando de acordo com as leis da natureza - a lei do mais forte - não deve se dobrar à lei da cidade, feita por fracos para dobrar os fortes. "Ora, segundo penso, homens como aqueles procedem de acordo com a natureza do justo e, por Zeus!, embora contra esta por nós estabelecida; os melhores e mais robustos dentre nós, nós os apanhamos quando pequeninos, como leônculos, para amoldá-los; escravizamo-los com amavios e feitiços, inculcando-lhes que cumpre manter a igualdade, porque nela consiste a beleza e a justiça. Nasça, porém, um homem de índole assaz forte e ele, no meu entender, há de sacudir de si e romper todas essas injunções, safar-se delas, calcar aos pés nossos escritos, sortilégios, encantamentos e mais leis contrárias à natureza, pôr-se de pé e, de servo que era, assomar como nosso amo; brilhará, então, esplendoroso, o direito da natureza"(483e/484a). Já o discurso de Sócrates apresenta-nos uma outra ética: "...assim, pois, Cálicles, é de todo em todo forçoso que o sábio, por ser, como dizíamos, justo, bravo e piedoso, seja perfeitamente bom; que as ações do bom sejam boas e belas; seja feliz e ditoso quem procede bem, mas desditoso o mau, que pratica o mau; este seria o de comportamento oposto ao do sábio, isto é, o desenfreado, que decantavas. Esses os princípios que admito e cuja verdade sustento; sendo eles verdadeiros, quem de nós quer ser feliz, deve, naturalmente, buscar e exercitar a sabedoria, e fugir ao desenfreio quanto lhe consentem as pernas(...) Proceder de tal sorte que estejam presentes a justiça e a sabedoria para haver felicidade, eis, a meu ver, o alvo que se deve ter em mira na vida, sobre ele concentrando todas as energias pessoais e do Estado, em vez de deixar sem repressão e tentar satisfazer as paixões..."(507cde). Mas, como se ligam estas perorações éticas à retórica e à dialética? Poderíamos considerar uma coincidência ser Cálicles ao mesmo tempo um retórico e um defensor de uma moral instintivista e individualista? Ou, do lado de Sócrates, explicaria o acaso o convívio da dialética com uma moral repressiva e uma ética da verdade? Ou haveria alguma relação entre a forma de comunicação discursiva e a ética? Em "Notice" sobre Górgias, Alfred Croiset é bastante taxativo:" il s'agit, en fait, de choisir entre deux genres de vie, la vie suivant la rhétorique, la vie suivant la philosophie(500 a-d)"(Platon - Ouvres completes - Tome III - 2a partie, pag.106). Passemos a palavra a Sócrates: “... como vês, a uma pessoa por menos ajuizada que fosse, que matéria interessaria mais seriamente do que a de nosso debate, isto é, como devemos viver? Da maneira que propões, quando me induzes a proceder como homem, falando na assembléia, exercitando-me na oratória e atuando na política na forma que vós outros agis atualmente? Ou passando a vida na Filosofia? E em quê sobreleva esta maneira àquela? Portanto, talvez seja melhor distingui-las, como há pouco eu tentava fazer; uma vez concordes sobre a distinção feita, caso se trate de dois teores de vida diversos, verificar no que divergem e qual deles deveremos adotar"(Górgias500cd). Sócrates prossegue em seu raciocínio e podemos entender que para ele, sendo a retórica uma prática não-científica, o prazer por ela produzido tanto poderá ser bom quanto mau, mais provavelmente mau, pois falta-lhe, em sua base, uma ciência que distinga o bem do mal, condição necessária para o exercício da temperança. Só após uma longa dedicação à dialética e à filosofia poderá o cidadão exercer adequadamente qualquer profissão, especialmente a política, pois na política, mais que em qualquer outra profissão, se lida com o demos, o conjunto dos cidadãos a quem é preciso proporcionar uma vida reta, justa e feliz. Sócrates: “Dos atenienses, creio, sou um dos poucos, para não dizer o único, a cultivar a verdadeira arte política; a praticá-la hoje em dia, o único...” (521 d).

Em Górgias mantém-se até o final uma nítida separação entre retórica e dialética, apesar de tímidos lançamentos de cabos de abordagem se encontrarem aqui e ali. Por isto mesmo torna-se possível associar a cada uma destas duas formas de comunicação uma ética e uma moral. Já em Fedro, embora, de início, esta compartimentação se mantenha, logo retórica e dialética lançarão pseudópodes um em direção ao outro e acabarão por criar um novo organismo. Escaramuças, regateios, nuanças, retorceduras, negaças, meneios, farão parte destas aproximações ambivalentes, ambivalência que não desaparecerá totalmente mesmo quando já se puder falar de uma integração. Robin encontra uma forma elegante de expressar esta amálgama:...à cette rhétorique de fait Platon oppose ce qu'on pourrait appeler une rhétorique de droit, rhétorique philosophique qui n'est autre chose qu'une mise en oeuvre pratique de sa dialectique.(Notice sobre "Phèdre" in "Platon- Oeuvres Complètes" pag.XXXVIII). Mas, voltemos a um momento em que a divisão entre retórica e dialética é ainda nítida: "Fedro: ...ouvi dizer que para quem deseja tornar-se um orador consumado, não se torna necessário um conhecimento do que é realmente justo, mas do que parece justo aos olhos da maioria, que é quem decide em última instância. Tão-pouco precisa saber realmente o que é bom ou belo, bastando-lhe saber o que parece sê-lo, pois a persuasão se consegue não com a verdade, mas com o que aparenta ser verdade"(Fedro260a). Diante desta fala Sócrates retoma o método raciocinante-dialético levando Fedro a concordar que esta pura retórica, não comprometida com nenhum conhecimento produz "um fruto que não pode ser nada bom"(260d). Mas logo em seguida Sócrates realiza um resgate da retórica: "Todavia, não teremos, meu caro, exagerado os limites da dureza ao censurarmos assim a retórica? Pode ser que ela responda assim: ‘de que estais a tagarelar, homens de pouca monta? Não sabeis por acaso que eu não obrigo ninguém, que ignore a verdade, a aprender a falar, mas, posto que o meu conselho tenha algum merecimento, primeiro cumpre aprender a verdade e só depois se dedicar à minha prática? Eis, por conseguinte, o que declaro solenemente: nem por isso, o que estiver de posse da verdade a conseguirá impor sem recorrer à arte da persuasão'"(260d). Esta retórica com pretensões à legitimação não poderá ser, pois, uma retórica qualquer; não deverá ser uma prática, mas sim uma arte, uma psicagogia "uma arte de conduzir as almas através das palavras” (261a). Esta arte depende de um conhecimento do objeto, pois, só é possível clarificar ou iludir ao ouvinte quando bem se conhece o objeto. Caso contrário, o orador, ele próprio, ficará iludido, perdido nas semelhanças e dessemelhanças que não pode perceber com clareza, já que o objeto é, para ele, confuso e obscuro. "Por isso", diz Sócrates em 262a, "se pretendemos iludir alguém sem nos iludirmos a nós mesmos, cumpre-nos conhecer com exatidão e em pormenor as semelhanças e dessemelhanças do objeto". O conhecimento preciso do objeto do discurso torna-se tão mais necessário quanto mais se trata de "assuntos de natureza duvidosa" (263b) como, por exemplo, o amor. Para que se possa tentar este conhecimento preciso do objeto é necessário, desde logo defini-lo. É o que Lísias não faz em seu discurso, diferentemente de Sócrates que quase imediatamente define o amor. Mas ele o define parcialmente no seu primeiro discurso, razão pela qual podemos considerá-lo como amputado, incompleto. Esta imperfeição é corrigida no seu segundo discurso, onde os dois lados do amor são levados em consideração. O discurso, digamos assim torna-se mais artístico, pois, "todo o discurso deve ser formado como um ser vivo, ter o seu organismo próprio, de modo a que não lhes faltem, nem a cabeça, nem os pés, e de modo a que tanto os órgãos internos como os externos se encontrem ajustados uns aos outros, em harmonia com o todo"(264c). Tanto é preciso ver o organismo no seu todo quanto nas partes constituintes, compreendê-lo a partir da totalidade ou das partes. Aqui se coloca a possibilidade de duas maneiras de proceder: "A primeira consiste em abarcar de uma só vez, graças à visão de conjunto, as idéias disseminadas, a fim de que, pela definição de cada uma dessas idéias, as possamos resumir em uma só idéia geral do assunto que se tem em vista tratar"(...) A segunda, "consiste em proceder na inversa, isto é, em dividir novamente a idéia geral nas idéias particulares constituintes, observando-as nas suas articulações naturais, evitando, todavia, mutilar estas partes constituintes, tal como um mau cortador. Como vimos há pouco, os nossos dois discursos, apresentaram, primeiro, uma idéia geral da loucura. Logo a seguir, assim como a unidade do nosso corpo compreende, sob a mesma designação, os membros do lado esquerdo e os membros do lado direito, também os nossos discursos concluíram, dessa definição geral, duas noções distintas, a saber: uma à esquerda, que distinguiu o que estava errado e vilipendiou merecidamente o amor; outra que, situando-se do lado direito, tomou a via mais acertada, e se lançou à descoberta de um outro amor, igualmente divino, ao qual cumulou de elogios e apresentou como o maior dos bens"(265de/266ab). Para se poder falar de arte retórica é preciso que, no discurso, a definição do objeto se aprimore cada vez mais em um jogo dialético entre o todo e as partes. Neste momento, dialética e retórica se confundem. Mas haverá para além de uma retórica que é ao mesmo tempo uma dialética, uma outra retórica que, embora menos digna, ainda assim mereça ser chamada de arte? A resposta que encontramos nos arrazoados de Sócrates é negativa. Pelo contrário "todas as artes importantes devem basear-se na pesquisa e na meditação da Natureza, pois é daí que parece advir-lhes essa sublimidade de pensamento que nelas se encontra, ao lado da perfeição” (270a). Não se pode, porém, de maneira alguma esquecer a existência de um dom natural e da necessidade de exercícios oratórios. E mais: será necessário conhecer a natureza da alma, e a diferença existente entre as várias classes de alma para poder adequar o discurso à alma, pois aquilo que é persuasivo para uma alma, não o será para outra. "Sócrates: A análise que fizemos demonstrou entre o mais o seguinte: não é possível elaborar discursos naturais com arte, seja para ensinar, seja para persuadir, quando se ignora a verdade sobre os objetos nos quais incide o que se diz, ou se escreve, isto é, quando não se está em posição de definir e dividir os objetos em espécies e gêneros, quando não se estudou a natureza da alma e não se determinou os gêneros de discursos apropriados à persuasão de cada alma, e se, enfim, o discurso não tiver sido orientado de tal maneira que ofereça um teor complexo ou um teor simples, consoante a alma for, também, complexa ou simples!"(277bc).

Em 273e voltam a se reunir a retórica-dialética e a ética: "Sócrates: Quem não tenha classificado os caracteres dos seus futuros ouvintes; quem não for capaz de dividir as coisas existentes segundo os seus caracteres específicos, e de reunir objetos particulares numa só idéia geral; jamais chegará a ser um artista da oratória dentro das possibilidades humanas! Ora isso é um resultado que ninguém consegue alcançar sem grande esforço, e só um insensato empreenderá tal tarefa com o único fito de se exibir perante os demais homens, não com o propósito de agradar os deuses, pondo na sua escolha todas as suas energias, conforme os desejos dos deuses! Eis, Tísias, o que diz quem é mais sábio do que nós: o homem com poder de discernimento não procurará tornar-se agradável aos seus companheiros de escravidão, mas sim aos seus mestres de origem celeste". E mais adiante: "Sócrates: Assim é, meu caro Fedro! Todavia, acho muito mais bela a discussão destas coisas quando se semeiam palavras de acordo com a arte dialética, uma vez encontrada uma alma digna de receber as sementes! Quando se plantam discursos que se tornam auto-suficientes e que, em vez de se tornarem estéreis, produzem sementes e fecundam outras almas, perpetuando-se e dando ao que os possui o mais alto grau de felicidade que um homem pode atingir!"(276e/277a). As últimas palavras de Sócrates sobre retórica referem-se, na verdade, ao resto, ao dejeto que dela sobrou, depois de ter tido sua parte nobre incorporada à dialética e à filosofia. A esta incorporação Robin denominou de retórica filosófica e pudemos perceber que nela se reúnem retórica, persuasão, dialética, filosofia, ética, política, mito, estética.

Em Górgias encontramos um diálogo racional, dialético, seco, duro, preciso, e um mito cerebral, produzido para induzir, através de uma ameaça mitológica, uma conduta indicada pela Razão, um mito feito em estado de frieza, de não-exaltação. Em Fedro nos deparamos com três discursos, conversações dialéticas e mitos inspirados, mitos que pretendem atingir, por si mesmos, a verdade, inventados em estado de delírio; mitos que eventualmente não conduzam à verdade, mas que valem pela possibilidade de acesso a uma verdade que a racionalidade não atinge. De qualquer forma, a Razão deverá confirmar, nas suas articulações, a veracidade do mito. A persuasão está presente tanto em Górgias quanto em Fedro. O mito da recompensa/castigo após a morte é, sem dúvida, um mito persuasivo. O próprio raciocínio de Sócrates é persuasivo, e o é, não só pelo raciocínio como também pela posição que ocupa, o prestígio que tem e modo de apresentar suas idéias. É o que digo no resumo que fiz sobre "Górgias": "Mas, se Sócrates colocasse as proposições de seu sistema em bloco - ou mesmo separadamente - sem uma preparação, sem um cenário convincente, sem uma magia, uma admiração, um desconcerto, um espanto, uma pugna, uma inteligência, elas poderiam simplesmente não ser aceitas. O uso do método raciocinante desconcerta os adversários, deixa-os perplexos e vencidos e a partir destas artimanhas de raciocínio eles se vêem compelidos a dar legitimidade ao que Sócrates fala"(pag.4). Em Fedro a persuasão é mais explícita e mais bela. O mito, que em "Górgias" é ameaça, transforma-se em beleza no diálogo "Fedro". Um persuade pelo temor, outro pela exaltação estética produzida pelo texto. Terminando o texto quero deixar registrados dois pensamentos: dialética, retórica e filosofia acabam por formar uma amálgama inextricável; a uma certa forma de comunicação corresponde uma ética e uma filosofia.


Rio, 21 de janeiro de 1994

Nahman Armony

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