Amar e Ser Amado

Nahman Armony
        
Uma antiga música de Antonio Maria cantada por Maysa começa com um lamento: “Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama, de meu amor”. Esta é uma queixa freqüente que encontramos em letras de música e na boca de amigos. “Não tenho ninguém” ou “gostaria tanto de ter um amor” cujo subtexto é na maioria das vezes o refrão “não sou amado”. Poucas vezes encontramos pessoas que digam “gostaria de amar alguém”. Sem dúvida quando duas pessoas se amam torna-se problemático separar o amar de ser amado. Pode-se porém dizer que, com muita freqüência a idéia de felicidade está mais no “ser amado” do que no amar. Pois prestem atenção amigos: as delícias de amar superam as de ser amado. Ser amado é muito bom mas tem mais a ver com uma posição passiva, com uma satisfação vaidosa, com uma felicidade que vem de outro e dele depende. A alegria de ser amado não é plena, não é visceral; assemelha-se àquelas gargalhadas que sem deixarem de ser verdadeiras não envolvem o corpo/psique por completo, mas apenas parte dele. Já o amar é algo que nos pertence, que nasce em nossas entranhas e que nos enche o peito de um júbilo transbordante, que ativa todas as nossas moléculas em direção ao ser amado, que provoca uma alegria que nasce e mora em nós mesmos, que nos torna melhores, mais capazes de apreciar a vida, mais generosos, com uma infinita disposição para viver e realizar. Ser amado é um empréstimo amar é um capital. Quando o amor pelo outro nasce de nós mesmos ele transborda para o mundo. Os versos que se seguem, parte da poesia “Poema do amor universal”, de minha autoria,  expressam bem este pensamento: “Eu amo  E ao amar  Posso amar mais ainda  Posso estender meu amor em comprimento e profundidade  Sem deixar de amar a quem amo”. No “ser amado” meu viço depende do outro enquanto que no amar depende de mim mesmo.

Não é fácil distinguir o amar do ser amado quando ocorre esta feliz conjunção. Se além de amar formos amados pelo objeto de nosso amor, haverá uma retroalimentação, uma potenciação  que elevará este amor aos píncaros. Ser amado estimula o amar, e vice-versa. Se, porém por um esforço de discriminação, dissecarmos este conjunto, veremos que amar nos torna mais fortes, plenos e criativos que o ser amado.

         Se minha flama depende de estar sendo amado eu a perderei ao ser abandonado. Se porém ela depender de estar amando eu a possuirei mesmo ao ser dispensado. Meu sofrimento não matará a minha capacidade para a alegria, para o entusiasmo, mesmo que a tristeza venha a ocultá-los pois eu amo e ao amar possuo uma potência dentro de mim. Se meu amor depende do amor do outro minha alegria e felicidade dele virão e as perderei quando ele se for. Se minha alegria e meus outros sentimentos positivos dependerem do amor do outro, na verdade não os possuo, eles me são concedidos em usufruto. Por tudo isto, amar nos torna mais vitais e fortes que ser amados. Se, além de amar sou amado, o amor que já existe a priori em mim  torna-se mais pujante. É diferente de só amar quando se é amado. Não havendo um núcleo de amor autônomo o vigor vital murchará quando o outro se for só restando o desânimo, desespero, depressão, impotência, desvalorização, sentimento de incapacidade.

     Portanto, amigos, amemos acima de tudo. Amemos àqueles que nos amam, mas lembremo-nos que o amar nos traz mais benefícios que o sermos amados.

         Porém não vale a pena amarmos a quem não nos ama. Mas também não é suficiente amarmos por sermos amados. É preciso que amor parta de nós mesmos e se encontre com o amor que o outro nos dedica. Caso contrário nosso amor cairá no vazio e certamente sofreremos com isto. Mas se o amor está em nós, por traz do sofrimento se manterá latente a capacidade de amar, a capacidade de ser alegre, a capacidade de viver criativamente. Mais cedo ou mais tarde elas voltarão à tona.     

2 comentários:

  1. Adoro esse artigo. Li pela primeira vez em 2009 numa revista da sala de espera de um consultório no Rio de Janeiro e o releio-o sempre que sinto necessidade.

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    1. Fico muito feliz quando sei que algum de meus escritos ajuda o leitor de alguma maneira. Obrigado pelo feed-back. Adorei, Um abraço. Nahman.

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