FOLHAS AO VENTO
ESTILO RABISCOS
Experiência
de Libet – o potencial de prontidão precede de 550 milisegundos a realização do
gesto. “A interpretação clássica desse experimento diz que o livre arbítrio, ou
seja, a ideia de que nós somos os arquitetos de nossas ações, é uma ilusão e
que a consciência é uma espécie de efeito colateral de um processo
inconsciente.” Crítica de Schurger: “ Libet argumentava que o nosso cérebro já
decide mover-se antes de haver uma intenção consciente. Nós argumentamos que o
que parece ser um processo de decisão pré-consciente não é reflexo de uma
decisão. Parece ser, mas apenas porque essa é a natureza da atividade cerebral espontânea.
Se estivermos certos, o experimento de Libet não fornece nenhuma evidência em
desacordo com o livre-arbitrio.”
Minha tentativa de
explicação. Um pouco de neurociência especulativa. Premissa 1: necessidade de aumento da percepção
do ambiente. Quanto mais ampla a percepção mais o ser vivo poderá se defender,
atacar e sobreviver (Darwin). Poder-se-ia aqui falar de vontade de potência
como equivalente a um instinto primário. Imagino então o seguinte. Numa
primeira etapa os animais só percebiam o ambiente quando os seus corpos tocavam
no ambiente. O ambiente externo ao corpo reagia ou com irritação e então se
afastava do fragmento do ambiente no qual por acaso tinha tocado, ou então o
introduzia no seu próprio organismo para se alimentar, fosse um fragmento
mineral fosse um outro ser vivo que era então decomposto em suas partes
(proteína, gordura, açúcar, etc.) Tanto um quanto outro processo só ocorria
quando o acaso colocasse a substância viva com um objeto inanimado ou com um
ser vivo que então lutava para não ser destruído. Interessava então à sobrevivência poder perceber
o outro, antes de tocá-lo. Desenvolveram-se partes do cérebro que permitiram
essa percepção. Na revista ‘Mente e
Cérebro’ de novembro de 2016 aparece a figura de um verme primitivo ao qual foi
dado o nome de CAENORHABDITIS ELEGANS. Esse verme se alimenta de bactérias do
solo, não tem cérebro nem consciência, mas usa seus reflexos para encontrar
comida, procriar e se defender tanto de predadores quanto de lesões. Imaginemos um jacaré olhando com aqueles
olhões. O cérebro se desenvolveu paripasso com o aumento da capacidade de ver. Ou
pode-se dizer exatamente o contrario. A necessidade de ver fez com que uma
parte do cérebro se desenvolvesse. A capacidade de ver o mundo é concomitante
às transformações funcionais. Uma única substância com inúmeros atributos dos
quais só percebemos a atributo extensão e o atributo incorporal (mental). (Acho
que hoje já se poderia heuristicamente dizer que a Teoria da Relatividade é
outro atributo, assim como o é a física quântica ou talvez também as geometrias
não-euclidianas, ou a representação do mundo através de equações complicadas
inteiramente fora do senso comum.) Voltando aos olhos do jacaré: ele enxerga o
que é externo a ele mas não desenvolveu o cérebro para enxergar os seus
processos mentais e psíquicos internos. Esta proeza foi realizada pelo homem
que desenvolveu uma parte do seu cérebro no sentido de ver o que se passa
dentro da mente e da psique. Estou falando principalmente de autoconsciência, ou
melhor, de autopercepção. Não se pode separar o desenvolvimento neuronal da
conquista mental. Ambas são concomitantes, ocorrem ao mesmo tempo. Voltando ao
que eu já disse são dois aspectos de um mesmo fenômeno. No dizer de Spinoza,
são atributos da Natureza. Há um crescimento e arranjo cerebral que permite ver
não só o externo, o que está fora do ser, como também permite ver o que está
acontecendo dentro do próprio cérebromente. Isto através de dois modos: por
introspecção e por aparelhos de imagens dinâmicas. Parto
da seguinte premissa: a todo movimento da mente (portanto a todo pensamento)
corresponde um movimento dos elementos cerebrais. É necessário que existam
certas estruturas, funções e dinâmicas cerebrais para que o animal perceba com
os seus órgãos de sentido aquilo que está acontecendo no mundo. A palavra
‘perceba’ poderia ser substituída por ‘consciência’. O primeiro patamar da
consciência eu a chamo de ‘consciência da pura ação.’ Num segundo patamar
encontramos a consciência reflexiva que é a capacidade mental/cerebral de agir
inteligentemente ao resolver algum problema externo sem porém ter consciência
de que está resolvendo problemas pois esta última encontra-se no patamar da
autoconsciência, privilégio dos humanos que observam seus pensamentos e ações.
Darei um exemplo da consciência reflexiva que os animais reflexivos partilham com
o ser humano. Um cão foi deixado para trás numa encruzilhada. Ele cheira uma
primeira via buscando o cheiro do dono. Não há cheiro. Entra então
resolutamente na 2ª via. Estamos diante de uma inteligência ou consciência
reflexiva. À sua maneira canina o cão pensou: “se só há dois caminhos e meu
dono não passou por este caminho só pode ter seguido pelo outro caminho”. Seu
aparato cérebromental permitiu esta percepção/ação sem que percebesse que
estava fazendo um raciocínio lógico. Já o homem desenvolveu um cérebromente que
lhe permite ter autoconsciência. São modificações cerebrais que ampliam o campo
de conhecimento dos seres vivos. Seria possível encontrarmos modificações
cerebrais para os chamados fenômenos paranormais? Dentro da premissa colocada
por mim a resposta só pode ser positiva. A meditação não é um fenômeno
paranormal. Mas está mais próximo desta fronteira. Foram detectadas alterações
na dinâmica cerebral nos monges que realizam meditação. Esta última afirmação
tira a força do que venho dizendo, mas vale a pena colocá-la para nos
afastarmos de acontecimentos milagrosos ou excepcionais, pois os bons
motoristas de taxi londrinos têm o córtex temporal ou parietal aumentado em
comparação com a população não taxista e taxistas incompetentes. Preservamos
assim a ideia de uma evolução cerebral/mental que talvez dê pulos, mas não são
campeões de salto à distância.
Nahman Armony
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