Como quase sempre em psicanálise
a nomenclatura é imprecisa e variável. Eu uso repressão no sentido de uma força
externa impedindo a manifestação de um impulso. Por exemplo: a polícia
reprimindo uma manifestação popular; um pai impedindo que um bebê ou criança
pegue um objeto frágil; o mesmo pai impedindo o filho de se debruçar em lugares
perigosos (sacadas, janelas). Recalque já é o processo pelo a qual a pessoa,
internalizando a entidade repressora, ela própria impede a manifestação do
desejo ou afeto. Quando falo de recalque penso em um processo inconsciente.
Porém existe um processo consciente de censura da pessoa para si mesma. Estaria
conceitualmente entre a repressão externa e o recalque inconsciente. Por não se
ter lhe dado realce não possui um nome. Eu prefiro ainda chamar de repressão a
chamar de recalque, deixando este último termo para designar especificamente um
processo inconsciente de censura e impedimento. Exemplo: A mãe proíbe um bebê
de pegar um objeto. Toda vez que a criança tenta alcançá-lo a mãe fala um não
que, digamos, varia do carinhoso ao enérgico (não precisa ser agressivo-assustador).
Ao cabo de algumas experiências, o bebê ao se dirigir ao objeto para pegá-lo
(impulso de desejo) pára dizendo para si mesma com intensidade: “não”, “não
pode”. Isto significa que ela internalizou uma figura de autoridade como objeto
interno ainda não inteiramente assimilado. Ela está a meio caminho entre a
repressão externa e o recalque inconsciente. Após algum tempo, o “não” que era uma
ordem de uma figura interna na zona objetal, torna-se incorporada ao eu,
passando a fazer parte do sistema inconsciente de censura: dizemos então que
houve recalque.
Nahman Armony
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