Ontem assisti a parte do programa milênio onde uma pessoa
que presumo ser um neurocientista falava dos sentimentos humanos em termos de
hormônios. Certamente os hormônios existem. A questão é: eles acompanham nossos
sentimentos ou provocam nossos sentimentos? Ou nenhuma das duas coisas? Não
seriam sentimentos e hormônios dois aspectos de uma mesma realidade? Não seria
mais adequado pensar em termos de monismo e não de dicotomia? Eu já pensei e
escrevi algo a respeito. Uma descoberta feita por um neurocientista e
confirmada por outros foi decisiva para que eu formasse uma ideia a respeito
desta questão. Antes que tomemos consciência de alguma coisa os circuitos
cerebrais já entraram em ação. Se, por exemplo, meus neurônios inconscientes me preparam para realizar uma ação como pegar um objeto segundos antes do Eu consciente pensar em realizar tal ação, os neurônios correspondentes já foram ativados. A partir daí pensei que a melhor formulação para esta
maneira de funcionamento era dizer que é o cérebro que pensa. A mente, a
consciência, o eu são também formas sofisticadas de funcionamento cerebral,
isto é, dos circuitos e mapas neurônicos. Pertencem a uma outra forma de
conhecimento/ação. É o acréscimo humano às formas de conhecimento/ação de
outros mamíferos que depende de uma complexificação dos circuitos cerebrais e
que justamente permitem uma amplitude maior de conhecimento/ação. Portanto, a
formas primitivas de conhecimento/ação inconscientes se acrescenta no Homem o
conhecimento daquilo que ocorre nos circuitos cerebrais mais primitivos. Eu não
só conheço e ajo no mundo como fazem todos os animais como também percebo a
minha ação e os caminhos que me levaram a ela. Desde o início da marcha
evolutiva a possibilidade de conhecer o mundo e atuar nele foi fundamental para
a sobrevivência. O ponto máximo a que chegamos neste momento da evolução é a
aparição da consciência/mente/eu. Pode ser que no futuro hajam outros passos
evolutivos. Pode-se mesmo pensar que a parapsicologia, hoje um fenômeno tão
esparso que podemos ou não acreditar nele, possa ser este outro passo. Haveria então
uma ampliação maior do conhecimento/ação do Homem.
Outro aspecto referente à entrevista A adrenalina injetável
produz efeitos generalizados afetando todo o comportamento mas sem uma
direcionamento referente a uma relação intersubjetiva ou interpessoal. Se fosse
possível dar uma injeção de oxitocina teríamos um sentimento generalizado e não
dirigido de amor. Isto é muito diferente da oxitocina que produzimos quando
estamos nos relacionando com alguém pois neste caso o sentimento de amor tem um
alvo, um sentido, uma direção.
Nahman Armony
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